“Eu durmo tranquilo porque sei que ele está na presidência, mas também perco o sono pensando que Chávez pode perder as eleições de outubro de 2012”, disse Lula durante a reunião sigilosa num hotel de São Paulo com o embaixador venezuelano. “Uma derrota de Chávez seria igual ou pior que a queda do muro de Berlim”. (Se encarasse o tema numa prova do Enem, o estadista de araque não conseguiria rabiscar nem dez linhas, todas ininteligíveis, sobre o episódio que precipitou a dissolução do império soviético. Juntara-se à Irmandade dos Órfãos do Muro certamente por ouvir as lamúrias de Fidel Castro sobre aquela tremenda safadeza do imperialismo ianque).
Tão fundamental quanto o desembarque na campanha chavista de um especialista em fazer o diabo para ganhar eleição, foi em frente o cabo eleitoral. Para encorpar a votação do amigo venezuelano com uma propaganda eleitoreira exemplarmente enganosa, Lula tinha o homem certo: João Santana, naturalmente. No telegrama que resumiu a conversa no hotel, endereçado ao chanceler Nicolás Maduro, o embaixador Arveláiz rebatizou o marqueteiro do reino lulopetista de “Joel” Santana. O conhecido treinador de futebol está fora dessa.
Em maio, outro telegrama avisou a Maduro que Lula pousaria na Venezuela em 2 de junho, depois de uma escala em Cuba, e pretendia aproveitar a oportunidade para acertar com Hugo Chávez, em conversas a dois, os detalhes do projeto eleitoral. Oficialmente, ressalvou o embaixador, o visitante baixaria por lá para participar de um encontro com empresários organizado por Emilio Odebrecht. É uma informação preciosa: já estava em ação, disfarçado de palestrante, o camelô de empreiteira que seria aposentado pelas descobertas da Operação Lava Jato.
Só faltou combinar com o destino, sabe-se hoje. Surpreendido durante a campanha pelo câncer, Chávez morreu em março de 2013 sem assumir o mandato conquistado cinco meses antes. A partir de 2 de agosto de 2012, José Dirceu afastou-se do grupo de cúmplices para dedicar-se em tempo integral a escapar de punições pelo envolvimento com a quadrilha do Mensalão. Condenado por corrupção pelo Supremo Tribunal Federal, foi preso em 12 de novembro de 2012. Depois de alguns meses em liberdade condicional, foi atropelado pelas investigações da Lava Jato e continua engaiolado em Curitiba.
João Santana, que ajudou Chávez a ganhar a eleição, também afundou na roubalheira do Petrolão de mãos dadas com a mulher, Mônica Moura. Depois de algum tempo engaiolado em Curitiba, o casal tenta driblar o caminho de volta à cadeia pelo atalho da delação premiada. Enredado em distintas maracutaias, réu em três processos, Lula há muito tempo deixou de ser convidado para comícios e palestras no Brasil e no Exterior. Hoje, só juízes federais se interessam pelo que tem a dizer o chefão encurralado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário