terça-feira, 20 de setembro de 2016

Os crimes da era Lula

Existem dias na vida das pessoas em que a História se realiza ante nossos olhos na forma de desconstrução irrevogável das percepções do senso comum. São dias que marcam e demarcam. Dias nos quais vivemos momentos em que temos a certeza de que uma era chega ao fim e outra se inicia.

Isso pode acontecer com a violência de um terremoto, de um ato de guerra, um desastre, ou simplesmente pelas palavras ditas por um ser humano.

No dia 25 de fevereiro de 1956, Nikita Khruschev ainda nas indefinições que se seguiram à morte de Stalin, realizou uma apresentação para uma sessão fechada do Congresso da URSS, na qual Khruschev demoliu para sempre a reputação de Stalin enterrando definitiva e irrevogavelmente qualquer ilusão e complacência com a realidade criminosa acerca de como o “paizinho” exerceu o poder.

Falou durante quatro horas de silencio, em uma sessão onde as testemunhas posteriormente afirmaram que era possível escutar um alfinete cair ao chão. Khruschev disse aos delegados perplexos: “ Stalin mostrou em uma série de casos sua intolerância, sua brutalidade, abusos de poder—ele geralmente escolheu o caminho da repressão e aniquilação física não somente contra seus verdadeiros inimigos, mas também contra aqueles que não cometeram nenhum crime contra o partido ou contra o governo soviético. ”

Dali em diante a era Stalin começava a ser historicamente descontruída e, mais do que tudo, devidamente fixada na História a verdadeira face criminosa de Stalin.

O Brasil viveu um dia assim quando tomamos conhecimento que o ex-presidente Lula é agora acusado formalmente de diversos crimes. O mais impressionante momento pode ser resumido na fala de um jovem procurador do Ministério Público Federal (MPF) que afirmou que “hoje o MPF acusa o sr. Luiz Inácio Lula da Silva como o comandante máximo do esquema de corrupção identificado na Lava-Jato” e ajuntou referindo-se ao ex-presidente como “maestro da orquestra concatenada para saquear os cofres da Petrobras e outros órgãos públicos” e “grande general do esquema de corrupção” que a operação Lava Jato desvelou em suas investigações remontando ao longo de mais uma década atrás de evidências, provas e fatos.

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A fixação na História da desconstrução de Lula ocorreu no dia 14 de Setembro aos olhos de todos os brasileiros via webcast, em uma transmissão na qual fomos contemplados não apenas com a fala dos procuradores e investigadores, mas com a exibição de farta documentação de suporte, sintetizada em conjunto de slides exibidos em grande tela. Aliás é só clicar aqui para conhecer a íntegra da acusação contra Lula, sua esposa e seus amigos.

Nas últimas duas semanas os brasileiros viveram outros dias inegavelmente históricos, começando pela conclusão pelo Senado do processo constitucional do impeachment devido a crimes de responsabilidade da presidente Dilma Rousseff, que se arrastou durante nove meses e foi concluído no dia 31 de agosto. Mas nada é mais simbólico do que o dia em que Lula passou a ser formalmente acusado na Justiça como “o comandante máximo” do maior esquema de corrupção de que se tem notícia em nossa jovem nação.

O que vem por aí ninguém sabe nem pode prever.

Mas o mais provável é que os dominós continuem caindo um a um. Lula pode ser preso a qualquer momento, mas dificilmente escapará das barras da lei. Dilma seguramente será enquadrada nas investigações, no mínimo por tentativa de obstrução de justiça. O Partido dos Trabalhadores poderá virtualmente desaparecer por meio da implosão eleitoral ou formalmente extinto pelo Tribunal Superior Eleitoral.

De qualquer forma Lula prepara-se para passar à História de forma contrária às suas próprias expectativas. Lula no Brasil foi o líder político mais popular dos últimos cinquenta anos, talvez só ultrapassado como mito popular por Getúlio Vargas, com quem Lula sempre apreciou ser cotejado.

Vargas viveu igualmente um longo período de protagonismo, mas sempre foi visto inegavelmente como um virtual ditador entre 1930 e 1945. Teve seu momento de maior glória ao voltar ao poder pela via eleitoral em 1950 até 1954, ano de seu suicídio. Mas Vargas passou ser reconhecido popularmente em termos históricos como “pai dos pobres e mãe dos ricos”.

Ricardo Neves

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