quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Olimpíada cansa

Ai, que lombeira! Já fiquei fatigado na festa de abertura. Lembrou-me o Samba do Crioulo Doido, do Stanislaw, com Santos Dumont na mesma praia de índios, ritmistas de escola de samba e bicicletas-floreira. Ufa!

Depois tome gente correndo, nadando, sacando, socando, saltando, se dopando. E a Terra de Santa Cruz se notabilizando no judô, tiro, vara e boxe, o que explica muito sobre nós mesmos.

Outro fator que merece reflexão, e tem grande correspondência com isto, é o Exército recebendo 70% das medalhas numa Olimpíada civil. Seria uma profecia do que se dará com o Bananão depois do desembarque de 21 mil soldados nas ruas, avenidas e morros da Cidade Maravilhosa? É sabido que os nossos homens de caserna adoram manter posição depois que a conquistam. Basta ver quanto tempo permaneceram no mesmo sítio após aquele 1º de abril de 1964 de funesta memória. Em função disso, o momento pede uma torcida ainda maior que a do Maracanã pelo ouro futebolístico. Oremos e roguemos a todos os santos.

Após as primeiras reações ao Evento veio o ludopédio. Mais uma vez presenciamos a usurpação do ex-esporte bretão pelo poder público, pelo poder econômico, governo, empresas, entidades oficiais e pelo marketing.

O próprio presidente-twitter (discursos de até 140 caracteres) foi postando com celeridade em sua rede social: “a seleção olímpica de #futebol conquista #ouro inédito em momento histórico do país. Hora de nos reerguermos com a grandeza do nosso #BRA!”.

O “grandeza do nosso #BRA” me recordou a campanha publicitária de um certo banco. Mas, tudo bem, banqueiros harmonizam com o Feteapá, Festival de Temeridade Que Assola O País. Já o significado exato deste “reerguermos” é o que assistiremos nos próximos episódios da série House of Cards, versão candanga.

Infelizmente, minha estafa não parou por aí. Teve ainda o episódio dos nadadores ianques que bancaram os pinóquios de posto de gasolina, o técnico alemão que expirou num acidente de trânsito, o francês que saiu obrando e correndo, o africano que cruzou os punhos em protesto contra a matança do seu povo, Usain Bolt saindo com ex-mulher de traficante. São tantas olimpílulas que daria até para fazer uma lista do Buzzfeed.

Isso sem mencionar o quesito Neymar. Esse provou, com todas as letras, não ter espírito olímpico, só uma vaga mediunidade. E olhe lá.

Exauriu-me tanto a Rio 2016 que não consegui nem ver o Encerramento. Aliás, das poucas coisas coisas em comum que possuo com Michel Temer – entendo perfeitamente a ausência dele na cerimônia de entrega da pira ao Mario Bros. Chega uma hora que ninguém aguenta mais tanta superação.

Entretanto, o que mais esfalfa a gente é tomar contato agora com essa dura realidade. Centenas de heróis concorreram ao ouro. E agora milhões de mortais vão concorrer ao pagamento da conta.

Ai, que lombeira!

Deem-me licença para tomar um fôlego: logo começa a maratona das eleições municipais.

Carlos Castelo

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