quinta-feira, 25 de agosto de 2016

MEC reprova livros didáticos por ver racismo e machismo nas imagens

O FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) reprovou livros didáticos por considerar racistas e machistas imagens de mulheres, negros e até indianos em problemas sociais – como enchentes em São Paulo, dramas da seca na África e na Índia e até mesmo campanhas de saúde pública criadas pelo próprio governo federal.

Uma coleção de quatro volumes de Ciências da Natureza foi excluída do Programa Nacional do Livro Didático porque os avaliadores consideraram que algumas imagens caracterizam “discriminação e violação dos direitos humanos” ao reproduzir “estereótipos e preconceitos de condição social, étnico-racial e de gênero”.

Uma das imagens consideradas nocivas é a de mulheres africanas carregando vasos de barro, que ilustra a abertura de um capítulo sobre o drama da falta de água no planeta. Segundo o parecer, assinado em abril, ainda no governo Dilma, fotos como essa “trazem situações que retratam condições de inferioridade com relação aos negros e mulheres. Colocam também a mulher como vítima de desigualdade de direito a condições adequadas de vida”.

A mesma avaliação recebeu a foto de uma enchente cujas vítimas são pardas, e uma pintura naif que poderia muito bem ser interpretada como simpática ao movimento negro. Para o FNDE, as imagens ainda “enfatizam o desnível sociorracial acentuando distorções com conotações especificamente raciais e ferem o conceito de igualdade social”.

Na prática, o critério politicamente correto do MEC veta qualquer imagem dos livros em que mulheres, pardos ou negros estejam relacionados a notícias negativas. Acaba privando os estudantes da informação sobre o perfil étnico das pessoas que mais precisam de ajuda na sociedade brasileira.

Uma das imagens classificada como contrária aos direitos humanos foi produzida pelo próprio governo Dilma. Retrata o cantor Thiaguinho e sua bem-sucedida luta contra a tuberculose. Parte de uma campanha do Ministério da Saúde de conscientização sobre a doença, o cartaz ilustra o capítulo sobre doenças transmissíveis do livro de sexta série.

Até mesmo um cartaz de conscientização sobre a tuberculose, criado pelo Ministério da Saúde, foi considerado racista pelo MEC

O MEC viu racismo contra negros até mesmo em imagens que não são de negros. Foi o caso de uma fotografia de indianos com baldes na mão cercando um caminhão-pipa. A própria legenda no livro da sexta série informa que a foto é de Nova Déli e que a Índia é um dos países que mais sofrem com o racionamento de água.


A aprovação do FNDE define o sucesso de vendas de uma coleção de livros didáticos, pois seleciona as obras que serão usadas por 32 milhões de alunos do Ensino Fundamental de escolas públicas.

A autora da coleção, que prefere não se identificar por temer perder oportunidades no mercado editorial, foi professora de Ciências e Biologia na rede estadual e federal por 25 anos, escreve livros há 20 anos e já ganhou o prêmio Jabuti na categoria didáticos. Ao receber a notícia da reprovação dos livros, ela imaginou que os motivos seriam técnicos ou pedagógicos. Quando leu o relatório, ficou revoltada. “Nunca vi na minha vida uma barbaridade e uma perseguição como essas”, diz.

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