domingo, 21 de agosto de 2016

Afago na alma

Fim de papo para os Jogos do Rio, termina hoje uma das edições mais controversas e celebradas de todas, como previsivelmente seria o caso da primeira Olimpíada na América do Sul. Controversa, por conta do boçal terrorismo alardeado bem antes de seu início via correspondentes internacionais, e celebrada pelos momentos épicos protagonizados cidade afora, ainda por cima com uma moldura de fazer cair o queixo, além de um envolvimento do público como poucas vezes se viu na história do evento.

É natural que a partir de agora ganhe vez um debate sobre os erros e os acertos, a respeito do que funcionou ou deixou de funcionar durante a edição carioca, entretanto indicar qual foi o seu grande calo, desde já, não parece ser tarefa das mais difíceis: a colossal parcela da população descrente no seu sucesso. Mais do que isso, tão certa de seu fracasso que em inúmeras vezes pareceu torcer para que ele se confirmasse.

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Convenhamos, ser brasileiro não é mesmo fácil. Inquestionavelmente empapuçados pelos escândalos políticos e a crise econômica, ainda por cima com a pachorra do petismo em manter o fantasioso discurso do golpe, muitos de nós simplesmente não tiveram ânimo para celebrar a maior festa do esporte.

Eu mesmo, não é de hoje, resmungo contra tudo e contra todos. Virou hábito. Quando dou por mim já estou me queixando do Rio e dos cariocas, a respeito dos brasileiros e adjacências. Critico a sensação de insegurança, a falta de educação das pessoas nos cinemas e a incapacidade de ficar do lado direito na escada rolante. Em suma, reclamo com gosto e fôlego para muito mais.

Exceto durante essas duas últimas semanas.

Sim, todas as mazelas que antes carcomiam a nossa paz não deixaram de existir, passávamos e continuaremos passando por suplícios de toda ordem, problemas graves não nos faltam e, com toda a franqueza, assim permanecerá por muitas gerações. Mas não durante essas duas últimas semanas.

E é precisamente essa a magia do esporte. Ele te arrasta, cria parênteses capazes de tornar o mundo do sujeito impermeável, protegido de querelas e ainda por cima melhor, mais leve e positivo.

De Bolt a Phelps, de Biles a Isaquias, de Thiago à velocista que interrompe a prova para ajudar quem caiu, sem falar na oportunidade de acompanhar esportes menos votados mas nem por isso menos interessantes, a Olimpíada do Rio conseguiu sugar de mim todo o azedume acumulado por meses de um debate político rasteiro, graças aos colunistas mal intencionados ou simplesmente ruins. Pelo menos durante essas duas últimas semanas.

Olhando por esse lado, ao identificarmos a miragem, alguém pode achar esse meu discurso uma tolice. Podem dizer que, ora essa, se a vida continua dura, se os problemas graves continuam reais, então que se dane a Olimpíada e a comoção que ela provoca. Mas eu digo que não.

Esses Jogos Olímpicos foram tão incríveis, recheados de momentos especiais, e até de polêmicas como a patética encenação dos nadadores americanos, que transcenderam a disputa esportiva. Serviram como expurgo para o brasileiro. Arrisco-me até mesmo a dizer que somos, hoje, diferentes de duas semanas atrás.

Pois que este afago na nossa alma renda frutos. Que as boas vibrações olímpicas, de superação, perseverança e vitória, mas também de disputa ferrenha, tão cedo não deixem de permear o nosso ambiente.

Somos, sim, capazes de surpreender. Inclusive a nós mesmos.

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