É natural que a partir de agora ganhe vez um debate sobre os erros e os acertos, a respeito do que funcionou ou deixou de funcionar durante a edição carioca, entretanto indicar qual foi o seu grande calo, desde já, não parece ser tarefa das mais difíceis: a colossal parcela da população descrente no seu sucesso. Mais do que isso, tão certa de seu fracasso que em inúmeras vezes pareceu torcer para que ele se confirmasse.
Convenhamos, ser brasileiro não é mesmo fácil. Inquestionavelmente empapuçados pelos escândalos políticos e a crise econômica, ainda por cima com a pachorra do petismo em manter o fantasioso discurso do golpe, muitos de nós simplesmente não tiveram ânimo para celebrar a maior festa do esporte.
Eu mesmo, não é de hoje, resmungo contra tudo e contra todos. Virou hábito. Quando dou por mim já estou me queixando do Rio e dos cariocas, a respeito dos brasileiros e adjacências. Critico a sensação de insegurança, a falta de educação das pessoas nos cinemas e a incapacidade de ficar do lado direito na escada rolante. Em suma, reclamo com gosto e fôlego para muito mais.
Exceto durante essas duas últimas semanas.
Sim, todas as mazelas que antes carcomiam a nossa paz não deixaram de existir, passávamos e continuaremos passando por suplícios de toda ordem, problemas graves não nos faltam e, com toda a franqueza, assim permanecerá por muitas gerações. Mas não durante essas duas últimas semanas.
E é precisamente essa a magia do esporte. Ele te arrasta, cria parênteses capazes de tornar o mundo do sujeito impermeável, protegido de querelas e ainda por cima melhor, mais leve e positivo.
De Bolt a Phelps, de Biles a Isaquias, de Thiago à velocista que interrompe a prova para ajudar quem caiu, sem falar na oportunidade de acompanhar esportes menos votados mas nem por isso menos interessantes, a Olimpíada do Rio conseguiu sugar de mim todo o azedume acumulado por meses de um debate político rasteiro, graças aos colunistas mal intencionados ou simplesmente ruins. Pelo menos durante essas duas últimas semanas.
Olhando por esse lado, ao identificarmos a miragem, alguém pode achar esse meu discurso uma tolice. Podem dizer que, ora essa, se a vida continua dura, se os problemas graves continuam reais, então que se dane a Olimpíada e a comoção que ela provoca. Mas eu digo que não.
Esses Jogos Olímpicos foram tão incríveis, recheados de momentos especiais, e até de polêmicas como a patética encenação dos nadadores americanos, que transcenderam a disputa esportiva. Serviram como expurgo para o brasileiro. Arrisco-me até mesmo a dizer que somos, hoje, diferentes de duas semanas atrás.
Pois que este afago na nossa alma renda frutos. Que as boas vibrações olímpicas, de superação, perseverança e vitória, mas também de disputa ferrenha, tão cedo não deixem de permear o nosso ambiente.
Somos, sim, capazes de surpreender. Inclusive a nós mesmos.
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