A vigilância do governo, estabelecida pela Constituição do país e confiada ao Parlamento nacional, foi posta a pique, levando de roldão a obrigação de dar contas ao povo da inteireza ou não dos atos governamentais praticados na esfera do Poder Executivo, e naufragou até o afastamento da presidente da República. Daí, iniciativas de comissões parlamentares de inquéritos nunca lograrem resultados durante o reinado lulopetista. Quebraram-se, pois, no plano de fiscalização do Executivo, os elos da mais importante ferramenta constitucional colocada pelos constituintes, em países civilizados, à disposição dos mandantes, em cujas mãos repousa a soberania do próprio Estado democrático.
Daí decorre o ineditismo dos sucessos ocorridos, só há pouco tempo submetidos parcialmente à ação do Judiciário. De um lado, os agraciados com a responsabilidade de representar os titulares do poder delegado; de outro, uma miríade de assaltantes que me lembram os versos de Manuel Bandeira: “Corro à floresta: entre miríades/ De vagalumes, junto aos troncos,/ Gênios caprípedes e broncos/ Estupram virgens hamadríades”.
Quem são os “gênios caprípedes e broncos”? Decerto os que se articularam para estuprar as “virgens hamadríades”, ou seja, os brasileiros à mercê dos “gênios caprípedes e broncos”. Quem são “as miríades de vaga-lumes” operosos? Os investigadores do Ministério Público e da Polícia Federal que abastecem o Judiciário com abundância de elementos informativos para abertura das respectivas ações penais e a aplicação das penas, tudo estritamente conforme a legislação penal, ao contrário do que assacam certos agentes públicos e privados da mais ousada conspiração contra o patrimônio popular acontecida em nosso país.
A nação, quase em uníssono, está cansada, mas não segura a justificada ira. Também, em comunhão com o povo espoliado, se torna integrante e co- titular dessa gigantesca lide, confiando em que, por meio dela, voltará a ter o patrimônio de que foi audaciosamente privada, ao lado de merecida punição.
Enquanto isso, a população, igualmente em maioria, manifesta, com os meios de que possa dispor, a indignação nacional. Leio, a propósito, em “O Globo”, o artigo de José Casado, que se inicia com a narração de um fato sucedido com o presidente do Supremo Tribunal Federal, emblemático do que vai Brasil afora, num restaurante de São Paulo. Narra o autor que, quando atravessava o salão, Sua Excelência ouviu uma voz feminina que o saudou: “Ô, ministro!”. Ele parou, sorriu e estendeu-lhe a mão. “Olá, como vai?” Ela respondeu ao gesto: “Parabéns. A sociedade brasileira congratula Vossa Excelência pelo julgamento do mensalão e por aumentar os próprios benefícios agora, neste momento social tão importante”. Conclui Casado, acrescentando: “Lewandowski percebeu a ironia, manteve o sorriso, e seguiu”.
Para jantar no mesmo restaurante do ministro, devia ser uma senhora de posses. Não obstante, mostrou que, como milhares de outras, ela sabe da disparidade entre a remuneração de outros servidores do setor público e a do Judiciário. E demonstrou que são sabidas e comentadas as gritantes diferenças.
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