Faz tempo que todos os dias a gente espera. Como personagens do teatro do absurdo. Mas nada parece acontecer. Ninguém chega. Ninguém parte. Nada se resolve. Vivemos a mesma agonia todos os dias. Esperando a solução que promete, mas não vem.
A gente não sabe mais qual a solução. Ou quantas são. Quando chegarão. Se existem. Se de fato aparecerão. Os dias vão se passando. Viram meses. Até anos. E as noticias, embora novas, são sempre as mesmas. Convidam o tédio.
O tédio, contrariamente as soluções, atende rápido. É mortal. Transforma dias vazios e ideias repetitivas em desesperança. Destrói a vontade e polui a vida. Precisa ser ludibriado. E assim fazemos.
Discutimos o inútil a exaustão. Mesmo que nada de novo exista para ser dito. Palavras, esquecemos sempre, não substituem a ação. Ficção não vira realidade. É impossível viver de mentiras. Mas enxergar a realidade é doloroso. Esperando permanecemos. Por anos, assim.
E esperando ficamos. Parados, iludidos, por vezes atônitos. Sempre assistindo a cenário grotesco de degradação ética, institucional e legal. Acompanhando fatos repetitivos cometidos pelos mesmos personagens, sem muitas novidades.
Enquanto isso falamos. Conversa monótona, repetitiva. Ouvimos explicações que pretendem parecer diálogo mas que na verdade são simples monólogos, na melhor das hipóteses, cômico, e em todas as hipóteses, farsesco.
Conformados, parecemos ter aceitado a suspensão da vida enquanto nada se resolve. E, no interim, inventamos distrações. Promovemos eventos e damos a eles importância que não tem, a um custo que não deveriam ter. A gente se diverte como pode. Talvez.
De vez em quando, aparece algum mensageiro. Diz que a solução não chega hoje. Certamente amanha, promete. Mas ninguém mais acredita. Não haveria porque acreditar. Resta a indignação, a revolta. Alguém poderia gritar: “Vamos embora”. Certamente todos concordariam. Entusiasticamente.
Mas ninguém se mexe. Todos ficam imóveis. Esperando. Como ditam as regras deste teatro de absurdos.
E cai o pano.
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