A acusação do título, no sentido em que foi repetida “ad nauseam” nos últimos anos, era injusta como costumam ser todos os preconceitos ideológicos. As nossas elites, culturais, artísticas, empresariais, políticas, intelectuais e financeiras, não foram as responsáveis diretas pela criação de todos os problemas que o país enfrenta neste momento de crise aguda. Pelo contrário, tenho manifestado em diversas ocasiões a minha opinião de que, em todas as nações, países e sociedades, as elites são, justamente, o diferencial capaz de induzir o desenvolvimento social e econômico e de que, desprezar a utilidade desse fator costuma ser um desperdício com terríveis consequências, como a História sempre registrou.
Não interessa ao propósito deste tópico aprofundar a análise do fenômeno, na tentativa de identificação dos complexos processos sociológicos, políticos e econômicos que nos deixaram com elites muito menos capacitadas, cooperativas, engajadas, lúcidas e operantes do que as que já tivemos em outras épocas. Mas, não quero perder a oportunidade de registrar alguns exemplos e seus efeitos comparativos. Só para aclarar as idéias.
Em outros momentos políticos especialmente graves e sensíveis, pudemos contar com a contribuição e com a participação ativa de lideranças exponenciais, capazes de aglutinar a nação e dar-lhe objetivos lúcidos e concretos. Gente da magnitude política de Ulysses Guimarães, de Mário Covas ou de Tancredo Neves. E hoje, como estamos providos de elite política? Na época das “Diretas Já”, contamos com uma participação engajadíssima da nossa elite artística; todos com uma mensagem concreta e objetiva. Hoje, os poucos artistas nacionais que se apresentam como engajados nas grandes causas do país aparecem meio perdidos, com atitudes confusas ou contraditórias e, por isso, deixam de empolgar a sociedade. Perdemos densidade nesse particular. O panorama não é muito diferente no que concerne às nossas elites intelectuais. Quem vem pontuando na academia, nas fundações ou nos centros de saber? Os poucos que ocupam certo espaço midiático digladiam-se em torno de duvidosas, repetitivas e anacrônicas premissas ideológicas, sem agregar qualquer contribuição concreta para iluminar os caminhos desta sofrida nação. Não foi assim no passado.
Para evitar tendenciosidade, lembro que os extremos do espectro político já foram guarnecidos com o brilho intelectual de Roberto Campos e de Darcy Ribeiro. Onde estão os sucessores de Jorge Amado e de Oscar Niemayer? O que dizer, então, da nossa elite esportiva? Quem são os sucessores de Pelé, de João do Pulo, de Adhemar Ferreira da Silva, de Ayrton Senna e de tantos outros atletas que ostentaram postura de exemplo para os jovens e para os aficionados do esporte? Que cientista podemos indicar como candidato ao nosso primeiro e atrasadíssimo Prêmio Nobel? Quem deve receber a tocha que já foi empunhada, merecidamente, pelas candidaturas de Cesar Lattes e Carlos Chagas? Deixei para o final um comentário sobre a nossa elite empresarial. Nesse campo, nem parece que este país já assistiu o esforço empenhado de homens como Irineu Evangelista de Sousa ou Percival Farquhar. O que temos hoje é um empresariado que vem se tornando, em sua maioria, dependente do Estado (de seus favores, de suas encomendas e de seus regramentos) e, por consequência, incapaz de opor-se aos governos e às suas opções equivocadas. O processo, qualquer que seja ele, já demasiadamente demorado, nivelou por baixo e roubou densidade. Sim, a culpa é das elites ou, mais precisamente, da falta delas!
Rubens Menin
Rubens Menin
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