quinta-feira, 2 de junho de 2016

O bebê morto

A beleza da solidariedade e a tragédia da indiferença foram estampadas na foto do voluntário e terapeuta alemão Martin. Pai de três filhos e integrante da organização humanitária Sea-Watch, segurou o bebê morto retirado das águas do Mediterrâneo e o embalou com uma canção, acreditando estar ainda vivo.

A imagem foi fugaz no atual noticiário digestivo alcunhado de jornalismo de informação como se a essência jornalística virasse adjetivo. Chocou muitos. Mas quantos pensaram sobre o que viam ao menos três minutos, bem mais do que os segundos de locução no noticiário televisivo?


A morte do bebê no Mare Nostrum dos romanos não está tão longe de nós para que dediquemos à foto tão pouco tempo de reflexão. Bela em sua dramaticidade, alerta para a própria situação brasileira. Também vemos crianças morrerem sob a zika, o descaso hospitalar, a saúde desmantelada. A inocência dos jovens aqui parece também ter vida e muita, mas foi estuprado seu futuro.

Lá e cá não houve nenhuma vingança dos deuses ou cataclismas naturais para provocar morte. Não há que invocar aos céus compaixão. O mar daqui não se enche de refugiados, mas as terras estão repletas de covas infantis e de rios de sangue da violência contra jovens.

No Mediterrâneo e no Brasil destes tempos confusos, a autoria das tragédias não é de sobrehumanos mas dos próprios homens. São os europeus que fecham as portas aos necessitados refugiados das guerras e da miséria, que paradoxalmente é fomentada pelos país daqueles.

Não é outra nossa tragédia, criada e alimentada pelos marginais dirigentes, com a indiferença dos mais frios assassinos e ladrões. Em nome de uma estrela, de um projeto partidário, fez-se o caos e a população em debandada procura emprego, assistência.

Todos em busca da solidariedade, que deve ser oferecida pelos governos. No entanto, para essa faltam voluntários. O que encontram são mercenários dentro e fora de palácios, Congresso, Câmaras. E o Brasil mais se parece ao bebê reconchudo, morto.

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