O talentoso publicitário George Norman, falecido, criou o slogan “Um gesto vale mais que mil palavras”. Lembrei-me do amigo depois que vi a foto de Dilma Rousseff, toda sorridente, no Palácio da Alvorada. Na entrevista à “Folha de S.Paulo” (que li inteirinha), o que ela disse é um atestado de que jamais poderia ter chegado à Presidência da República. Essa foto, leitor, vale mais que 1 milhão de palavras!
Mas passemos adiante. Mesmo errado e titubeante, em momentos decisivos, não seria exagero dizer que não há ninguém que conheça mais o Congresso Nacional, suas entranhas e, hoje, sua baixíssima qualidade moral, do que o presidente interino Michel Temer, que o presidiu por três vezes. Temer também conviveu com Ulysses Guimarães, de quem foi companheiro durante anos no PMDB.
Estou falando de 1981, quando o paulista de Tietê (SP) foi nomeado, pelo então governador Franco Montoro, procurador geral do Estado. Em 1984, Montoro o nomeou secretário de Segurança Pública. Em 1986, foi eleito suplente de deputado federal constituinte. Assumiu a Câmara em 1987, em seguida à nomeação, para o cargo de secretário de Agricultura do mesmo governo, do deputado Antônio Tidei de Lima.
Em 1990, Temer foi candidato à Câmara Federal, mas novamente permaneceu na suplência. Obteve, na época, 32 mil votos. Em 1991, assumiu de novo o cargo de procurador geral do Estado, no governo de Luiz Antônio Fleury Filho, e, em 1992, ocupou outra vez a Secretaria de Segurança Pública, por ocasião do massacre do Carandiru. Em 1995, foi eleito deputado com 71 mil votos. Foi reeleito até o ano de 2010. Integrou depois, como vice, a chapa de Dilma à Presidência.
Exponho isso aí em cima só para dizer, com algum amparo, que, por dedução lógica (depois dessa avalanche, que é só o carnegão de uma corrupção que já existe há séculos aqui, não conheço nem sequer a mim mesmo), Temer não é um neófito. Ou estou enganado?
Adotemos, então, leitor, o bom humor diante do mau humor que está levando o país ao pior dos confrontos. Admitamos que Temer tenha acertado na nomeação da equipe econômica chefiada por Henrique Meirelles; admitamos que tenha ainda, pelas mãos do senador José Serra, acertado na condução de nossa política externa, que tem, agora, um rumo visível e defensável; admitamos também que as medidas econômicas que serão propostas pelo referido ministro Meirelles sejam aprovadas pelo Congresso (se este é ruim, espere pelo próximo, como novamente diria hoje Ulysses Guimarães); admitamos que Temer não mais titubeie na dispensa de seus auxiliares que sejam pegos pela Lava Jato; admitamos, enfim, que nenhuma fita o alcance... Temer seria, então, um bom caminho. Afinal, Dilma demitiu, na faxina ética, sete ministros, e Itamar, além de demissões, fez o diabo para chegar às eleições.
Pior, muito pior, seria imaginar que a presidente afastada possa voltar. “Cruzes!”, diria o Brasil. Só ela acredita nisso, ou melhor, só ela é capaz de falar à imprensa que acredita nisso. Na verdade (virtude que ela definitivamente não pratica), nem ela mesma acredita. E ela sabe (à exceção de alguns renitentes ou comprometidos petistas) que, além de o PT não acreditar nessa volta, ele não a quer mais.
Eleição direta, neste ano, sem dois renunciantes, é impossível; mediante estupro à Constituição, é o sonho de alguns golpistas; indireta, pelo atual Congresso, é terrível pesadelo, além de uma enorme temeridade.
Ruim com Temer, poderá ser pior sem ele.
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