Não é prudente antecipar conclusões antes que se apurem meticulosamente as denúncias. Os auditores analisaram apenas 16% dos gastos da obra e apontaram um possível desvio de R$ 18 milhões dos R$ 37,7 milhões de amostragem.
Vale lembrar, ainda, que a auditoria da Cidade das Águas vem sendo realizada em época de governo do PT, enquanto a obra foi tocada por um governo do PSDB. Defrontam-se rivalidades históricas que dividiram o Brasil e Minas. Daí que a prisão de sete investigados, entre eles o ex-presidente do PSDB, ex-secretário de Estado da Ciência e Tecnologia que tocou a obra, revela uma preocupante gravidade.
Em épocas modernas parece até falta de imaginação ter escolhido, entre 853 municípios de Minas, o berço do secretário de Estado mentor e tocador de um investimento tanto estrepitoso quanto de utilidade duvidosa.
Fazer acusações é desaconselhável, e haverá prazo para a defesa.
O que, entretanto, chama atenção e levanta estupor são aspectos colossais de uma obra que transcorreu “em silêncio”, quase como se não existisse dentro de Minas.
O volume de recursos e a maquete do projeto aparentam uma lógica faraônica, quase de uma pirâmide no deserto.
Mais que túmulos, seriam locais de iniciação de um rito que se perdeu junto com uma civilização varrida num grande cataclismo. Resta a evidência de túneis e câmaras, subjacentes ao empilhamento geométrico de blocos de pedras de até 90 toneladas, onde se celebrava algo que seria a libertação de um potencial adormecido no ser humano.
Ainda há quem acredite e afirme que apenas homens gigantes muito anteriores ao egípcios, que dividiram a terra com os dinossauros, teriam erguido há mais de 70 mil anos esses momentos, impossíveis aos seres do nosso tamanho.
O místico inglês Paul Brunton, em seu livro “Egito Secreto”, descreve a pirâmide como um circuito de galerias que levam a uma urna de pedra, disposta para receber um discípulo que, assistido por sacerdotes, permaneceria por três dias e três noites em estado de transe. Experimentaria, assim, a morte, a descida ao Hades e o renascimento num estado de consciência superior. Assim se faria “conhecedor “, apto a superar a escravidão das paixões, as limitações do egoísmo, e passaria a viver “em função de sua missão”.
Os egípcios construíram a sagrada cidade de Memphis, manifestação de extraordinária religiosidade.
Transcorridos milhares de anos, a Cidade das Águas tenta rivalizar com as proezas faraônicas.
Embora as águas mereçam todo respeito, neste momento de penúria e de exageros tributários, os R$ 230 milhões chocam quando dedicados à substância H2O, que já é fruto de estudos em milhares de instituições universitárias que padecem por falta de verbas.
Mais ainda num país que vive a dolorosa precariedade do sistema público de saúde, da infraestrutura, da falta de metrô e do meramente básico.
Se perguntar não ofende, quem autorizou isso? Quem permitiu? Quem pode dar uma explicação da destinação tão intrigante?
Mesmo que não se levantassem suspeitas de roubalheiras, o investimento em si fica inexplicável, grotesco pensando-se em um Estado que sofre a falta até de saneamento básico, com esgotos entrando pelos rios.
Ruim para o contribuinte, pior para quem sofre as amarguras do descaso e do abandono.
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