Lula poderia ter dito muitas coisas. Por exemplo: “Escolher Dilma como candidata em 2010 foi um grande erro. Renovar a escolha em 2014 foi uma temeridade.'' Ou: “Jamais deveríamos ter permitido a conversão da rotina em escândalo.” Ou ainda: “Onde estávamos com a cabeça quando trocamos a responsabilidade fiscal pelo malabarismo econômico?”
Lula poderia ter despejado dados sobre os gravadores e os microfones dos repórteres: “Na era petista, todos os estratos sociais prosperaram. A renda dos 10% mais pobres subiu 129% acima da inflação. A dos 10% mais ricos aumentou 32%. Mas a ruína econômica mastiga esses ganhos.”
Lula poderia ter recorrido às lamúrias: “O Brasil usufruiu como poucos do chamado ciclo das commodities. Mas lamento não ter feito as reformas estruturais. Lamento também não ter impedido a manobra das pedaladas fiscais, que maquiaram a realidade em meio a uma gastança que, se reelegeu a Dilma, criou o pretexto para derrubá-la.”
Lula poderia ter constatado que, em 13 anos, ajudou o PT a protagonizar o caso mais dramático de flexibilização das fronteiras ideológicas. Dormiu de um lado e acordou do outro lado, de mãos dadas com Sarney, Renan, Cunha, Collor e o imenso etcétera que cavou a sepultura do impeachment.
Lula poderia ter dito como se sente na pele de alvo da PF, do STF e do juiz Sérgio Moro. Antes de entrar no carro, Lula poderia ter gritado para os repórteres: “Eu amei profundamente o desastre. E fui correspondido.”
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