Graciliano Ramos dizia, com muita propriedade, que a “a arte de escrever é cortar”. Se Temer transportar a sabedoria do escritor para a sua futura administração, certamente começaria o governo sem traumas. Não dá mais para manter uma máquina de governo inchada, sacrificando o contribuinte que paga cada vez mais impostos para sustentar milhares de pessoas em cargos comissionados, além de mais de trinta ministérios aparelhados por partidos políticos de eficiência duvidosa. O escritor alagoano levou ao pé da letra o que alardeava ser um bom texto, enxuto e objetivo como servidor público. Quando esteve à frente da prefeitura de Palmeira dos Índios deixou para a posteridade o relatório da sua administração que o levou a ser descoberto como um dos maiores escritores brasileiros do Século XX: cortou despesas, acabou com a corrupção, o fisiologismo e enxugou a máquina para governar com eficiência.
Se Temer quiser conhecer de austeridade administrativa não custa nada, nas horas de folga, folhear algumas páginas do livro “Viventes das Alagoas”, onde vai encontrar o relatório que Graciliano enviou para o governo da época falando das suas obras, dos custos e do uso do dinheiro público. Evidentemente que esse conselho não se aplicaria jamais a presidente que sai, confessadamente ignorante e distante das boas leituras. Dilma vai passar para a história – se passar, é claro – como um objeto decorativo de uma presidência da república. Só não será totalmente esquecida, porque os livros vão falar dela como uma presidente banida do cargo pelo povo brasileiro.
É, mas vamos ao futuro, porque do presente já não se fala mais. A indecisão de Michel Temer em reduzir o número de ministérios é um vacilo que o povo brasileiro vai cobrar caro. Se ele for realmente atender a todos os políticos fisiológicos e a todos os partidos de aluguel, não precisa ser nenhum expert em política para profetizar que o governo já começa errado. Ao Brasil, com a sua economia em frangalhos, já não se permite deixar que o povo fique em segundo plano numa mudança de governo.
O novo presidente tem a obrigação de pensar mais nos trabalhadores que tiveram seus salários corroídos pela inflação, pensar nos 12 milhões de desempregados que o PT largou na rua da amargura, pensar no combate a corrupção apoiando a Polícia Federal e o Ministério Público, pensar na educação e na saúde, setores destroçados pela política de aparelhamento petista e pensar mais nessa nova geração que do Brasil só conhece a palavra corrupção. Enfim, Temer precisa, com urgência, se despoluir do fisiologismo partidário para governar olhando para o futuro.
É inadmissível que a máquina pública atravanque o desenvolvimento do país. O Estado não pode ser ele apenas a locomotiva econômica, o único gerador de emprego. O Brasil precisa, isso sim, desburocratizar a administração, incentivar as médias, pequenas e microempresas geradoras de emprego. Abrir as portas para o mercado externo e interno; incentivar os empresários a produzir; reduzir os juros cavalares que sacrificam o trabalhador; taxar os lucros dos bancos que, com a nova tecnologia, deixaram de ser empregadores em alta escala; limpar, limpar mesmo a administração pública acabando com a maioria dos cargos comissionados, extinguindo boa parte dos ministérios; e fiscalizando com seriedade as obras que, infelizmente, ainda estão nas mãos dos empreiteiros envolvidos na Operação Lava Jato.
Michel Temer precisa tomar medidas moralizadoras e saneadoras para devolver a confiança e autoestima à população brasileira. Se não fizer isso logo nos primeiros dias de governo, dará pretexto para os petistas corruptos se mobilizarem e pedir a sua cabeça orientando as centrais sindicais à greve e à mobilização popular, porque, de todos os partidos, o PT ainda é o único que tem uma base organizada pelas centrais sindicais, famigeradas organizações de pelegos que vivem às custas do estado.
Por isso, doutor Michel, sem querer ser chato, gostaria de sugerir novamente a Vossa Excelência que lesse, sem muito compromisso, o relatório de Graciliano Ramos. Quem sabe se o comportamento dos nossos governantes não teria sido traçado há mais de meio século por um matuto genuíno e genial com as letras lá das bandas de Quebrangulo. Doutor Michel, a solução para os nossos problemas, não está no estrangeiro, mas aqui pertinho de nós. É só conhecer mais um pouco a inteligência de alguns dos nossos homens públicos.
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