O Brasil, com os nervos à flor da pele, ressuscitou a paixão pela política de outros momentos históricos, o que gera – como todas as paixões – sentimentos antagônicos que podem produzir perplexidade e dor.
Pior seria, contudo, um país apático e indiferente à política, já que, quando se deixam os destinos do país ao sabor dos políticos, é mais fácil que se incubem tentações autoritárias.
Nestes dias criticam-se os eleitores por assediar quem foi designado para representá-los no Congresso. Pior seria se cidadãos estivessem indiferentes.
Depois de ter vivido a longa ditadura espanhola, tenho medo de quem se orgulha de não estar interessado em política, afinal, é ela que determina boa parte de nossa felicidade ou infelicidade, ou a possibilidade de viver em liberdade ou tirania.
Essa paixão que os brasileiros estão vivendo pela política, embora às vezes com tumulto e enfrentamentos, é também o melhor antídoto para as instituições que não deixam de ser sensíveis à voz das ruas que as vigiam e julgam.
Seria perigoso – e injusto –, neste momento, criar-se a imagem de um país às vésperas de um golpe autoritário. Felizmente, o Brasil não é a Venezuela. Com altos e baixos, suas instituições estão vivas e vigilantes. Aqui pulsa o desejo de punir e isolar os políticos corruptos dando, com isto, um exemplo a muitos outros países.
E é palpável a exigência dos cidadãos pela volta a uma economia saneada do cataclismo que a aflige e que não corresponde à riqueza e à vitalidade de um país-continente como o Brasil. Crise econômica na qual sofrem os menos responsáveis.
Que no domingo se veja, com qualquer dos resultados do processo de impedimento contra Dilma, uma festa da democracia digna de ser aplaudida pelo mundo. Com toda a paixão, criatividade e convicção que se queira, mas sem violência, pela qual deverão responder não só quem a desatar, mas também – e sobretudo – quem a instigar e alimentar nos bastidores.
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