A conferir quantas legiões Temer possui, mas, sem dúvida, sua mudança de lado -- mesmo camuflada como um desabafo -- é nitroglicerina pura.
Concretamente, pode fazer a balança pender desfavoravelmente para a presidente, como ocorreu na definição da chapa da oposição para comissão que analisará o mérito do impeachment.
E a guinada do vice, um político matreiro e de sangue-frio, não desarma os espíritos. Pode até ter efeito contrário. Ao perder um aliado tão importante, a tendência do governo será aprofundar do balcão de negócios como forma de assegurar os votos necessários para evitar o impedimento de Dilma.
O cabo de guerra no Congresso, com Eduardo Cunha jogando farofa no ventilador e o Planalto utilizando-se de todos os métodos para manter Dilma no poder, cria a real possibilidade da chamada judicialização da crise, com o STF sendo provocado a se pronunciar a cada instante. Anuncia-se, assim, uma agonia sem fim.
O lulopetismo tende ainda a assumir uma postura jihadista nas ruas, inclusive na hipótese de um governo Michel Temer. O brado de “impeachment é golpe” é apenas o prenúncio da agudização da linha “classe versus classe” que o PT adora assumir em praça pública, embora por baixo dos panos radicalize em acordos espúrios.
Seja como for, a carta do vice expõe as vísceras de um modelo que produziu excrecências, como o casamento de girafa com hipopótamo.Em termos de ideário, nada aproxima PT e PMDB. Mas falaram mais alto o projeto de poder pelo poder do Partido dos Trabalhadores e o velho patrimonialismo de seus aliados.
Expõe também as limitações do principal cardeal peemedebista. Quem esperava uma peça de um estadista, algo para entrar para a história, como, por exemplo, a carta de Vargas, ou o discurso Mário Covas, de 12 de dezembro de 1968, no Congresso Nacional, contra a cassação de Márcio Moreira Alves, amargou o gosto da decepção.
A carta-desabafo resvala pelos caminhos da política menor. Mais grave: não transmite aos brasileiros a segurança de que Michel Temer está preparado para presidir o Brasil, em uma quadra tão delicada da nossa história.
A vice-presidência é uma instituição a ser preservada. Não pode ser parte do conflito, até para ser a solução largamente consensual e constitucional na hipótese extrema de impedimento da primeira mandatária. Se há algum padrão no qual devemos nos referenciar, ele atende pelo nome de Itamar Franco.
Nosso problema não é atravessar o Rubicão. É atravessar, urgentemente, o enorme buraco no qual o Brasil foi jogado, por culpa dos governos lulopetistas. Os interesses gerais do país não podem estar submetidos à luta política imediata.
O desemprego, a inflação, a recessão, não serão enfrentados enquanto a crise política não for equacionada. Postergar sua solução é uma irresponsabilidade, um atentado contra o povo. Como poderá a nação ficar parada, em compasso de espera, se o Congresso entrar em recesso e não apreciar o pedido de impeachment? Tamanha insanidade é inadmissível.
Alea jacta est.
Que cada um e todos assumam suas responsabilidades. Perante os brasileiros e a história.
Hubert Alquéres
Nenhum comentário:
Postar um comentário