Os marcos regulatórios são condições “sine qua non”. Ninguém investe, empreende ou se dá ao risco maluco de ficar à mercê do acaso. As relações fluem na legalidade, e com isso se multiplicam as oportunidades.
A fraqueza do Brasil se encontra exatamente na falta de garantias, no excesso de burocracia e numa desregrada sede de impostos, e ainda pior, pessimamente aplicados.
Por parte das elites brasileiras falta valorizar as regras do jogo. A corrupção, a infidelidade e as trapaças têm suas raízes no modelo colonial. Subverte-se a ordem natural, e trava-se o fluir das relações, complica-se quem pretende apenas trabalhar, inibe-se o surgimento de empregos, dificulta-se a vida de todos, enfraquece-se, assim, o conjunto nacional, da ex-colônia que continua a agir como tal.
A cultura da Coroa portuguesa – colonizadora no pior dos sentidos – instalou no Brasil a exploração sistêmica de tudo e de todos, a ela é devida uma cota sem qualquer compromisso de retorno. O Brasil era sangrado pela Coroa e o é mais ainda pelo Estado republicano. Está na história como o último país do planeta que aboliu a escravatura. Mesmo assim manteve o viés escravagista nas relações sociais e o ampliou na gana de cobrar. Não se desintoxicou. Tirava-se da natureza e vendia-se matéria-prima (não elaborada) nos séculos passados, e continua sendo essa a prática mais comum. Raros e insuficientes são os grupos econômicos nacionais que desenvolveram tecnologia e competitividade. Também as multinacionais preferem outras fronteiras para industrializar e inundar o mundo.
A produção da indústria na década de 60 representava 17% do PIB, secou em 2014 para 8%, demonstrado que não existe uma tendência nem uma política definida pelo interesse a transformar, acrescentar valores e aproveitar a farta mão de obra local.
Vendem-se montanhas de recursos minerais em valor médio de US$ 50 por tonelada e importam-se smartphones por US$ 5 milhões a tonelada. Em termos de peso, a relação é de 1 para 100 mil. Existe preocupação com essa situação? Nenhuma. Despende-se uma fortuna para manter inativa a nossa mão de obra com esmolas que não geram oportunidades, cultura, emancipação.
Enche-se um navio com 100 mil toneladas para pagar algumas caixas cheias de matéria-prima brasileira elaborada no exterior.
A elite política e pensante se lixa disso.
Transcorridos 515 anos do Descobrimento, os Brasis mantêm a tradição do colonizador. Não existe uma aspiração definida de desenvolvimento ou de proteção às atividades produtivas. Apenas ganhar com o menor esforço. Os valores estratégicos de soberania de uma nação nem sequer são lembrados. O Estado brasileiro é um assassino da competitividade econômica, sabe cobrar tributos, gera complicações, defende a prática de cobrar em excesso. Trata quem trabalha como um idiota, perde seus melhores quadros para o exterior e castra seu futuro. Sem preocupação com a sustentabilidade. O sonho mais comum é criar gargalos para cobrar pedágios. Dessa forma, nada anda.
Quando aqui cheguei, há 40 anos, me incomodava a frase frequente, não generalizada, de “quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro”. Como? Achava mesquinho citar isso. Na escola me ensinaram desde a infância que “o trabalho dignifica o homem”, que é “melhor pouco com Deus que muito com o diabo”.
Ouvia dos mais velhos em casa que o estudo, a dedicação e a persistência eram fundamentais para qualquer sólida realização, condenavam-se as transgressões, que eram taxadas de vergonhosas. Diziam-me que não existia um sucesso estável fora da legalidade.
Assustou-me, assim, a insolente forma de contar vantagens de cânticos à esperteza.
Enfrenta-se agora a queda de 3% do PIB nacional, mas o Estado de Santa Catarina, uma ilha de Mittel Europe (Europa do Meio) ainda consegue crescer, em 2015, ao ritmo de 1,5%. Provavelmente, o Estado mais respeitoso com valores dignos.
Vale lembrar que o exército romano não ganhava batalhas pelo porte físico de seus soldados, mas pela inteligência de seus generais (conhecimento e disciplina) e pela qualidade dos armamentos (tecnologia).
Mais sente a crise, neste momento, a cigarra que a formiga.
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