Depois de sofrer “reprimendas” por dirigir taxis cidade afora, o prefeito do Rio de Janeiro, justificou: “Dirijo pouco, tenho motorista, é aquela fase burguesa de prefeito, que só anda de motorista.”
Ele e todas as excelências mundo afora desfrutam da fase burguesa a cada vaga conseguida nas urnas ou em cargos assumidos de primeiro, segundo e terceiros escalões.
É quando também se distanciam das ruas e suas cotidianas aflições, dificuldades e queixas. Passam a viver no mundo da lua, como disse um deputado sobre presidenta Dilma.
Ficassem mais próximos do povo e saberiam direito porque vêm tremulando bandeiras do “Vocês não me representam”.
Principalmente, saberiam de onde vem a rejeição e a perplexidade da população, alimentada diariamente, além das news do Lava Jato, por pérolas proferidas sem a menor cerimônia pela turminha em fase burguesa.
Ai vão algumas dos últimos dias:
— Ele acha que tudo é dinheiro e não entende que tem gente que está na política por poder ou por vaidade — disse um integrante do PMDB.
Estava no jornal, dita em off, avaliando o comportamento do presidente da Câmara, seu par de partido.
Perguntamos nós e nossa insignificância: quer dizer que vai-se para a vida pública, se não por dinheiro – esse grandão que rola nos subterrâneos -, apenas por “poder e vaidade”?
A coisa tá feia. Outras motivações de maior grandeza – espírito público, desejo se servir, atuar pela população, a favor do país, atuar em causas de seu segmento social – nem se cogita? Caíram completamente em desuso.
Segue o baile sem máscaras:
— Tem duas coisas que só não resolvem quando é pouco: dinheiro e porrada — disse, segundo o jornal, o excelência em questão “a mais de um interlocutor”.
A mesma matéria explica: “Além de sua visão de mundo, a frase mostra afinidade com o doleiro..., de quem é amigo.” E lá vem a frase similar do tal doleiro:
— Aprendi na vida que há dois jeitos de resolver um problema. Ou é com dinheiro ou é na porrada — disse (o doleiro), em entrevista publicada na edição de agosto da revista “Piauí”.
Precisa de explicação sociológica para as violências e os desrespeitos que comem soltos Brasil adentro?
Tem mais:
“Esse comportamento de dizer de olhos arregalados que não vai sair é típico do psicopata. O psicopata nunca cede, ele vai até o final com aquela versão e com as mesmas palavras. Isso vai cansar. Vamos ver se a Câmara vai ficar com o rabo entre as pernas, envergonhada por algo que está percorrendo o mundo inteiro, um presidente de uma instituição desse jeito.”
Essa delicadeza toda - do psicopata ao rabo entre as pernas - vem da fala de um colega de partido, eleitor do excelência presidente, e em referência ao dito cujo, que vive momento de “alvo a ser destruído”.
Guerra é guerra. Em praça pública como nunca antes na história desse país. E com a mesma metralhadora - e todas as letras - o velho parlamentar avalia: “A Câmara é uma tragédia. Eu nunca vi coisa tão ruim."
No mesmo dia, a manchete reforça: “1/3 do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados é alvo de inquéritos. Sete dos 21 membros do colegiado são alvo de ações no Supremo sob suspeita de crimes como lavagem de dinheiro.”
A Câmara foi o alvo desta semana porque a crise anda concentrada no condutor da Casa. Mas o furdunço alcança toda a classe dirigente e política do país, em liquidificador que põe bons e maus na mesma massa.
Aí o IBOPE registra e faz manchete:
A três anos das próximas eleições presidenciais... aponta um nível alto de rejeição entre os políticos mais cotados como possíveis candidatos em 2018.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece numericamente na frente, com 55% de rejeição (não votaria "de jeito nenhum") entre os prováveis candidatos ao Planalto. Estão empatados tecnicamente com ele -- a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais -- José Serra (PSDB), com 54%, Geraldo Alckmin (PSDB), com 52%, e Ciro Gomes (PDT), com 52%.
Além dos quatro, o Ibope mediu a rejeição a uma eventual candidatura de Aécio Neves (PSDB) e de Marina Silva (Rede). Marina é rejeitada por 50% dos entrevistados, e Aécio, por 47%.
Ou seja, no binóculo de hoje, para pelo menos a metade da população, ninguém dos politicões é confiável para assumir a vaga da tia Dilma. Surpresa?
Outras sondagens indicam que, enfastiada, a população quer reduzir tudo em relação ao cenário político - menor mandado, redução do número de parlamentares em todas as casas legislativas, menor tempo de propaganda eleitoral, horário reduzido dos “anúncios” na TV e no rádio. E mais, a perda de mandato para quem trocar de partido. Tolerância para essa troca só depois do mandato cumprido.
“A pesquisa mostra ainda um crescimento na rejeição de Lula, Aécio e Marina, nomes para os quais há dados comparativos de pesquisas feitas no ano passado. Em maio de 2014, apenas 33% não votariam em Lula "de jeito nenhum". Aécio era apontado com 37% de rejeição e Marina, com 36%, em pesquisa de abril.”.
Nada pessoal. Só um fastio com o modelo de política praticado desde muito, mas evidenciado nas mídias com pensamentos, palavras e obras nestes derradeiros anos.
O ex-presidente FHC, que lança livro de memórias dos seus dias do palácio fala de “chantagens do Congresso”, esquecendo – parece – que a coisa tem mão dupla, há chantagens também do Executivo. Caneta em punho, todos com a cabeça torta pelo longo uso de velho modus operandi.
Em entrevista, FHC também disse que hoje: "Não são os políticos que estão dando as cartas. Eles estão dançando a música dos outros".
Bom aguardar cenas dos próximos capítulos para descobrir que baile é esse e que maestro conduz a orquestra por hora desatinada e desafinada que só. Benza Deus.
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