A tarefa da política, segundo Lula, é manter-se no poder a qualquer custo, nem que para isso seja preciso mentir descaradamente.
Há uma certo deslizamento de sentido e uma intensa deterioração ética, talvez provocada pela passagem dos séculos, entre a definição do filósofo grego e a prática do filósofo de Garanhuns.
O modus operandi ético-intelectual do filósofo de Garanhuns é suficientemente conhecido para que não seja preciso desperdiçar - tempo tentando mais uma vez descrevê-lo.
Esbravejar com a voz rouca do alto de um palanque ameaçando mover céus e terra para manter a divisão do Brasil entre "nós", os bons, os caridosos, as almas puras, os igualitários, e “eles”, os elitistas impuros, egoístas, escravagistas, racistas, os que odeiam pobres viajando ao lado deles em aviões- essa é identificação primeira da “trade mark” lulista.
A partir desse carimbo, e do pensamento mágico que o envolve, tudo é possível. Uma vez estabelecida a divisão entre os bons e os maus, e fechado um exército em torno do maniqueísmo resto fica fácil. O eleitor brasileiro mais simplório lê com muita facilidade a cartilha do populismo: o mundo se divide entre os que querem o bem do povo e os que querem o mal do povo. Simples assim.
No conturbado cenário político brasileiro dos últimos tempos, que entrelaça uma crise política e uma crise econômica fabricadas pela fragilidade operacional e incompetência gestora do governo, o filósofo de Garanhuns salta para a ribalta sempre que a criatura política que ele inventou e colocou na presidência da República precisa de um laço firme e um braço forte.
Ele atua em duas dimensões: uma no segredo dos bastidores, onde se move com um certo segredo mas sem grande sutileza, e outro em um palco, desde que esteja cercado de sua plateia cativa, que aplaude cada palavra sua como se fosse a encarnação do Verbo Divino.
Enquanto no bastidor dizem que ele se jogou na tentativa de enlaçar Eduardo Cunha na barganha mandato x impeachment, no palco de uma reunião companheira, ele chegou ao ápice da desfaçatez, confessando que Dilma cometeu, sim, crime fiscal, mas foi por uma boa causa: pagar o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida.
O céu é o limite para os padrões éticos de Lula. Nunca ninguém chegou tão perto de oficializar o velho refrão populista que nasceu com o ademarismo em São Paulo e ganhou contornos profissionais com Paulo Maluf: rouba, mas faz.
No caso não se trata de roubo, trata-se de crime fiscal, mas o ingrediente moral é o mesmo: os fins justificam os meios, um dos princípios mais sórdidos já inventados na desqualificação e a degeneração moral da prática política.
Além de ser uma justificativa imoral, tem um componente ainda mais sórdido: é mentirosa.
Está comprovado que dos 40 bilhões de pedalada fiscal, 6 bilhões eram destinados ao Bolsa Família Os outros 34 bilhões era dinheiro a juros subsidiados para grandes empresas escolhidas a dedo pelo governo. Uma verdadeira bolsa-empresário.
A requintada fórmula moral do PT é que não basta cometer crimes fiscais para manter-se no poder. É preciso também mentir.
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