Rezemos, cada um a seu modo, por Aylan Kurdi morto na praia, que rezar é muito mais fazer parte do mundo. Mas na prece não esqueçamos que outros meninos em todo mundo, em cada minuto, também morrem e sofrem sob os governos sedentos de desenvolvimento a qualquer custo e cegos à desgraça. Governos, mesmo legitimamente eleitos, que infelicitam o futuro dessa criançada no nascedouro.Não existirá justiça enquanto um homem com uma faca ou uma arma puder destruir aqueles que são mais fracos do que eleIsaac Bashevis Singer (1902 – 1991)
Chore por Aylan e seu irmão Galip, mas não se esqueça dos meninos e meninas do Brasil. Os pequenos sírios fugiam de casa para encontrar um futuro; os brasileirinhos, mortos principalmente por balas, não fugiram de casas destruídas, muitas vezes estavam brincando na porta de casa. Só tiveram o azar de nascerem num país de paz cínica que não dá segurança aos cidadãos, onde a guerra entra porta adentro, ou janela, dos seus lares.
É cretinice demais derramar tantas lágrimas para se dizer parte do mundo pela morte de Aylan, quando as nossas crianças são assassinadas, estupradas, violentadas, sem que por um momento se tornem como Aylan símbolo de mudanças.
A Europa se comoveu pelo cadáver de uma criança na praia, que fugiu da guera. Seus cidadãos estão obrigando aos governos, legitimamente eleitos, a reverem a questão dos refugiados.
As crianças brasileiras, e são milhares, como Cristian Andrade morto esta semana em Manguinhos por uma bala perdida (?), se tornam mártires de uma causa perdida. Em nenhum momento merecem a dignidade de símbolos, nem tantas palavras, para mudar a violência. Serão apenas um número a mais na estatística para exibição de governos, que não atacam a violência com a mesma garra com que assaltam os cofres públicos.
O martírio infantil no Brasil apenas é capa de revistas parece não ter o mesmo poder de sensibilizar a sociedade a ponto de fazer a mudança de dar um basta ao infaticídio de milhares a cada ano.
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