segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Escassez de lideranças


A descrença dos brasileiros nos seus representantes políticos é histórica, mas estamos atravessando um momento da vida nacional em que esta visão às vezes até um pouco preconceituosa parece se conjugar com uma entressafra de boas lideranças. Colaboram para o mau momento da política a baixa popularidade da presidente Dilma Rousseff, as suspeitas de envolvimento dos presidentes das duas casas congressuais com o escândalo de corrupção na Petrobras e a citação de parlamentares e servidores nas investigações promovidas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Por um motivo ou outro, a verdade é que a elite política do país está no banco dos réus _ e a sociedade, sedenta de ética e decência, tem sido inflexível no seu julgamento sumário.

Neste contexto, agravado pela crise econômica que corrói ainda mais a confiança dos cidadãos nos seus governantes, fica ainda mais evidente a carência de lideranças capazes de assumir as rédeas do país para conduzi-lo a um futuro mais digno. Tanto é assim, que gente de fora da política, mais especificamente alguns líderes de setores empresariais, sindicais e associativos, vêm manifestando a vontade de interferir diretamente na administração pública, pela pressão objetiva sobre o Executivo e o Legislativo ou mesmo com propostas de soluções para os problemas que os políticos não conseguem resolver.

Se é injusto generalizar, como fazem alguns cidadãos indignados que invariavelmente associam a política à desonestidade, também parece inquestionável que os detentores de mandatos e os partidos que representam não estão fazendo a lição de casa. Seria bom ouvir de brasileiros uma manifestação como a que foi feita nesta semana pelo ex-presidente uruguaio José Mujica, em visita ao Rio de Janeiro. Ele pregou a humildade entre os políticos e esclareceu: “Não é uma apologia à pobreza e à miséria, mas os políticos têm que viver como a maioria, e não como a minoria privilegiada”.

Na falta de lideranças políticas que deem exemplo de integridade, a população tem dedicado sua atenção e sua admiração a agentes públicos que investigam e julgam os desvios da política _ caso de juízes e promotores que se destacam no exercício de suas atribuições. É um sinal claro de que o Brasil está carente de líderes éticos e comprometidos com os interesses coletivos.

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