Vejo-a, refiro-me a essa "fúria do bem", como uma forma de puritanismo. Os puritanos clássicos eram obcecados pela saúde da alma, mas pelo menos tinham perto de seus corações a agonia do pecado. Os novos puritanos têm apenas a certeza da própria pureza. São imperdoáveis por isso.
Mas, dito isso, vamos ao que interessa hoje. Recentemente, o mundo inteligentinho ficou estarrecido porque a maior parte dos egípcios está feliz com a ditadura do presidente Sissi. Esse comportamento da maioria dos egípcios parece uma heresia para muitos de nós, quando devia, na verdade, soar como a coisa mais normal do mundo.
Onde estão os "especialistas" que em 2011 afirmavam existir uma Primavera Árabe em curso? Foram acometidos pelo mesmo tipo de cegueira que acomete os religiosos fanáticos em geral: negam a realidade para afirmar um mundo que só existe nas suas cabeças e nos livros escritos em meio a queijos e vinhos.
E quando tudo que falaram não aconteceu, com a cara mais limpa do mundo, fingem que não disseram besteiras. Os profissionais da utopia de hoje são como gente que vende crack para os desgraçados.
As pessoas querem casa, comida e lazer. E dane-se o resto. A soberania popular, na sua intimidade invisível aos olhos de quem é cego, é exatamente essa. Se as pessoas conseguem andar na rua sem serem mortas (como estava acontecendo no Egito), elas fazem qualquer negócio. Minha tese é que aqueles que escreveram sobre "a utopia da Primavera Árabe" têm poucos compromissos com a vida real.
Na maioria dos casos, têm poucos ou nenhum filho, não têm casamentos longos e comprometidos com as famílias dos cônjuges (por isso jovens, normalmente, são aqueles que mais engrossam as fileiras das ideias descoladas da realidade); enfim, trata-se de uma moçada que raramente teme ficar sem salário ou sem grana para o supermercado ou para a escola das crianças.
O Oriente Médio é um inferno. Volátil, instável e com baixíssima institucionalidade. Quando ocorreu uma eleição após a dita Primavera Árabe no Egito, subiu ao poder a Irmandade Muçulmana. Proponho que todo mundo que acha que fundamentalistas islâmicos são aliados da plataforma do PSOL (amor, liberdade e revolta contra o capitalismo), esse partido de semi-celebridades libertárias, vão passar um tempo com eles.
Porque a liberdade de pensamento é uma coisa tão cara quanto uma bolsa Chanel, e, na maioria da vezes, ninguém esta nem aí para ela, mesmo.
Também gosto da democracia (sem entrar nos problemas que ela tem), mas pensar que a democracia seja um regime universal é a mesma coisa que pensar que o cristianismo pode servir para gregos e troianos. O filósofo Montesquieu, que viveu entre os séculos 17 e 18, dizia que grandes regiões povoadas por muita gente, sem uma ordem institucional mínima, precisavam de regimes autocráticos.
Uma pergunta que me ocorre é: as mulheres de lá gostarão mais de fazer sexo oral do que as nossas?
Uma pergunta que me ocorre é: as mulheres de lá gostarão mais de fazer sexo oral do que as nossas?
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