sexta-feira, 24 de julho de 2015

Um dia a casa cai

Como nos velhos faroestes, chamaram a Sétima Cavalaria. Ela chegou a galope, Joaquim Levy Mãos de Tesoura, o implacável Chicago Boy, à frente.

Levy veio a chamado da presidente, que passou a campanha eleitoral inteira ameaçando o Brasil com as maldades de Armínio Fraga e, para surpresa geral, convocou um discípulo.


Levy veio porque Trabuco, presidente do Bradesco, não aceitou o convite e indicou um braço direito para arrumar as contas públicas que Dilma Roussef e Guido Mantega passaram quatro anos bagunçando.

Na falta de um banqueiro presidente, o Partido dos Trabalhadores se contentou mesmo com um banqueiro vice, que chegou parecendo disposto a fazer chover no deserto.

O mercado sorriu para o ortodoxo, as agências de risco adiaram seus planos de rebaixar o grau de investimento do País, a presidente se acomodou desconfortavelmente e posou para as fotos ao lado do homem mau, e assim se passaram seis meses.

O ajuste fiscal deveria fazer uma primeira limpeza nas contas públicas da ordem de uns 66 bilhões de reais. Mais aumento de impostos, corte de alguns benefícios trabalhistas e nem sinal de corte nas despesas de custeio do governo.

Aproveitando a onda de desamor entre a base aliada e o governo, agravada pela falta de coordenação política e pela escandalosa impopularidade da presidente Dilma, o Congresso aprovou algumas leis criando despesas novas, acabando com o fator previdenciário, e jogando alguns reajustes de salários um tanto alucinados, como os do Judiciário, no colo do Tesouro.

O ônus do veto fica com a presidente, e a eventual glória da derrubada do veto fica como arma secreta dos parlamentares: pode servir para barganha ou para um jogo de cena para ficar bem com a corporação do Judiciário.

A dificuldade de aumentar mais impostos, de reduzir despesas, de controlar as ações um tanto irresponsáveis do Legislativo criando novas despesas, foi esvaziando os números do ajuste fiscal, que de um superávit de 1,1% do PIB foi caindo, caindo, até chegar a um potencial déficit primário de 0,3%.

O embate de bastidores entre Levy-mãos-de-tesoura e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, tornou-se público pela primeira vez num suposto resfriado que impediu a presença do ministro da Fazenda numa coletiva para anunciar cortes no orçamento. Barbosa anunciou sozinho um corte que não estava no tamanho apropriado para Levy.

O governo vacilou entre não cumprir a primeira meta anunciada e anunciar uma nova meta, muito pior, porém mais realista. Desta vez optou por assumir a nova e desastrosa meta. Mentir seria pior, sentenciou Raul Velloso, uma espécie de oráculo das contas públicas brasileiras.

Enfim, a meta fiscal caiu de 66,7 bilhões para 8,7 bilhões, isso se algumas medidas previstas pelo governo- como repatriação de recursos e recuperação de débitos tributários- derem certo. Se não derem, o esquálido superávit pode virar um déficit de 17,7 bilhões.



Levy fracassou, mas mantém-se impávido como uma estátua grega. Posa ao lado de um sorridente Nelson Barbosa e finge que o desastre não é com ele.

E na verdade não é só com ele, que fez o que pôde. E pela advertência dos economistas Marcos Lisboa, Mansueto Almeida e Samuel Pessoa, num denso texto publicado na Ilustríssima de domingo, dia 19 de julho, não é nem só com Dilma, apesar de todas as barbeiragens que ela fez em seu primeiro governo.

O problema é com o Brasil: desde 1991, a despesa pública sobe mais do que a receita. E o ritmo da diferença só aumenta. Um dia a casa cai.

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