segunda-feira, 18 de maio de 2015

No mato sem cachorro

Não dá claramente para identificar a lona servindo de cobertura. Muito menos é visível a olho nu qualquer elemento concreto que indique a construção do muro. Não dá, portanto, para determinar se o plano contempla a construção de gigantesco circo, ou de hospício de proporções jamais vistas.

Na verdade, o que fica visível é o nada. Ou melhor, o tudo. A ausência de um plano faz com que a desordem instalada torne qualquer coisa seja possível, ou, pior ainda, aceitável. É dessa maneira que tudo parece se resumir a uma sequencia de sacrifícios sem recompensa, ou (para alguns somente) recompensadas sem qualquer sacrifício. É o Caos.

Caos não traz benefícios. Apenas uma luta eterna pela sobrevivência imediata, simplesmente baseada na desordem, onde impera a entropia. Falta, enfim, razões, ideias e objetivos que formem algo que possa se assemelhar a uma nação. Ou pelo menos a seu projeto, mesmo que em construção. Sem isto, fica tudo sem direção, sem sonho, a deriva, enfim.

De um lado, pedem-se sacrifícios, ajustes, apertos nos respectivos cintos. Inexistem, entretanto, razoes para acreditar que, após todo o sacrifício, existira uma vida melhor. Pior ainda, não existem lideres capazes de explicar como seria caso realmente exista, esta vida melhor após o ajuste. Talvez por isso seja tão difícil conseguir apoio a medidas que, em outras circunstancias, seriam consideradas normais, de bom senso, recomendáveis, e até urgentes.

Todo este estado de coisas leva naturalmente a insatisfação generalizada. Não dá mesmo para imaginar que os responsáveis pelo atual estado de coisas estejam qualificados para a dura tarefa de corrigir erros, propor e propor soluções, e liderar a marcha em direção a dias melhores. Faltam competência, inteligência, vontade, e honestidade. Inexiste credibilidade.

É ai que, enquanto a vaca tosse muito e vai lentamente adentrando o lamaçal, a porca torce o rabo. Repetida e inutilmente. Ausência de ideias e de projeto não parece privilegia exclusivo daqueles que ocupam o poder.
Em país de crimes sem castigo; de quadrilhas sem chefes; de desertos de ideias, era natural que também existisse oposição que não opõe. Da mesma maneira que inexistem duvidas de que tudo precisa mudar, rareiam propostas, estratégias e lideres capazes de sugerir e liderar alternativas.

Ficamos, então, vagando perdidos neste deserto de ideias. No mato sem cachorro. Aferrados ao atraso. Forasteiros do que vemos e ouvimos. Velhos de nós mesmos.

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