segunda-feira, 18 de maio de 2015

Estamos quebrados. No civil e no religioso


O afastamento da presidente Dilma Rousseff da frente de relacionamento com sua base política no Congresso e a entrada no jogo do vice Michel Temer foram ações que deram ao governo lampejos de calmaria. Dilma no comando das relações políticas sempre se revelou um desastre, pelo que faz ou não, pelo que fala ou não, pelo que escolhe ou não escolhe. A política de coalizão, sustentada durante o último período eleitoral para reforçar a vitória do PT não conseguiu se impor como realidade, especialmente no plano federal, porque o leme estava em mãos erradas. Foi preciso que a embarcação emperrasse na areia para que quem podia mudar a rota acordasse.

O PT, como partido de vocação hegemônica, não facilitou como deveria essa construção, a da coalizão, e deixou seus parceiros ao vento, como meros espectadores. Esse descompasso gerou o engessamento da máquina pública, a dependência moral a que tudo se submete pelos resultados da extensa operação Lava Jato, ainda não conhecidos integralmente.

Acentuou-se ainda o dano que é a falta de um projeto Brasil em torno do qual se una a sociedade brasileira, as instituições e o empresariado para fazerem o país navegar em mar seguro. Essa carência é do governo e das oposições, que só tem como bandeira a tese do impeachment da presidente. A oposição é o samba de uma nota só.

O único projeto nacional que está no ar é o combate à inflação, que não é mais uma ameaça, é uma realidade. Séria e importante, mas equivocadamente tocada, já que a cada medida, mais se enrijece o consumo, majorando as tarifas públicas, restringindo o crédito e o fomento à produção, mas deixando aberta a porta dos bancos, sempre mais ricos porque a esses nada afeta, deles nada se exige e a eles tudo se protege. O sistema financeiro brasileiro, público e privado, nada acima da maré. Nunca foi chamado a contribuir e talvez essa seja a grande injustiça social de todos os governos. Os bancos esfolam a sociedade, esfolam a economia pública, crescem e nunca comparecem para ajudar. São do tipo dos que, à chegada da conta, vão ao banheiro e saem antes para nem dar carona a ninguém da mesa.

Tratados sempre como periódicos, os programas dos partidos têm que ter a coragem de incluir nas suas agendas a discussão sistemática de um Brasil que seja mais possível, mais durável. Assiste-se à nervosa movimentação de setores do sindicalismo gritando pela manutenção ou inclusão de privilégios na legislação laboral, que são estúpidos compromissos. O seguro desemprego, por exemplo, da forma como se acha concebido, é um desastre contra a economia pública, contra a produção e contra as próprias relações de trabalho. A remuneração e a aposentadoria de alguns setores do serviço público, do Executivo, Legislativo e do Judiciário, têm que ser urgentemente revista porque em muitos casos ela é imoral e insustentável. Dinheiro público ou privado não se inventa. Tem que ser gerado e gerido com competência, com responsabilidade, com grandeza. Não é para ser roubado, pela corrupção e pela manutenção de privilégios. Nem para ser corroído pela inércia da falta de governos ou seus sistemáticos equívocos.

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