Como czarina do setor elétrico desde 2004, Dilma sabia muito bem que não há como baixar o preço de energia senão aumentando a oferta
Em entrevista à TV Veja, o ministro Eduardo Braga disse que os estados então comandados pelo PSDB (São Paulo, Paraná e, na época, Minas Gerais) são responsáveis pelo aumento de mais de 50% na conta de luz do cidadão. Segundo ele, os entes federativos que defenderam o patrimônio de seus cidadãos da usurpação federal – leia-se MP 579, o conto do vigário da energia barata – são os culpados pela falência do setor elétrico.
Curioso esse ministro. Até aqui nada fez para tirar o setor do desastre provocado por sua chefa. Mas opera bem com a mentira e o transformismo. Dilma quis fazer cortesia com o chapéu alheio. Deu com os burros n’água, apesar de todos os alertas. Agora, com os brasileiros sofrendo forte confisco de renda por uma das contas de energia mais caras do mundo, Braga quer aplicar o conto-do-vigário. Mestre Houaiss no seu Dicionário da Língua Portuguesa diz de quem pratica este delito: “aquele que engana outrem com trapaças; vigarista, velhaco”.
Como czarina do setor elétrico desde 2004, Dilma sabia muito bem que não há como baixar o preço de energia senão aumentando a oferta. Quando decidiu anunciar na TV a canetada mágica que jogaria a tarifa para baixo em 20%, ela sabia que fazia isso à custa da usurpação das empresas estaduais de energia e da Eletrobras – esta, coitada, obrigada a assinar, foi sequestrada e depenada em R$ 10 bilhões pelo governo. Os estados que não assinaram, evitaram a falência de suas empresas.
O problema não foi só destruir o marco regulatório sem ouvir as partes. O pior foi incentivar o consumo em meio a escassez hídrica, quando as térmicas tiveram de ser acionadas a plena carga. Faltou a presidente explicar à Nação como faria a mágica de conciliar a energia cada vez mais cara com tarifas cada vez mais baixas. E mais: ao intervir no mercado e romper contratos, afugentou os interessados em investir no setor.
O rombo aberto desde 2012 já custou R$ 100 bilhões! De onde saiu o dinheiro para esconder o abismo? Do Tesouro Nacional, ou seja, do nosso bolso. Dilma deu com uma mão e tirou com a outra. Como os recursos não são infinitos, repassaram a barbeiragem para a conta de luz: 50% a 70% de aumento apenas em 2015 – e por enquanto. Só não tivemos que racionar energia ainda porque a economia, sobretudo a indústria, só anda para trás neste governo.
Se não bastasse a catástrofe financeira, os reservatórios subiram pouco no período chuvoso. Significa que, persistindo a média climática para o período seco, devemos chegar ao fim do ano com um nível de armazenamento em torno de 10%. Isto é, os problemas do setor em 2015 continuam em 2016. Nem esse quadro lamentável faz o governo assumir o estrago e incentivar uma campanha aberta, direta e franca de redução do consumo.
O discurso tranquilizador do Planalto destoa dos esforços desesperados do mesmo governo para aumentar a oferta (estímulo à geração térmica de pequeno porte, importação de energia da Argentina, leilões de gás com prazos de entrega reduzidos, etc). A Resolução 44 agora autoriza a venda de energia de empresas que tenham geradores a R$ 1.420,34 o megawatt hora! Dilma tinha prometido a R$ 9 e autoriza agora um valor 158 vezes maior! No dizer de um agente do setor: “Hoje a política é gerar energia a qualquer custo.” É a Dilma a qualquer custo fazendo qualquer coisa para sobreviver. Até quando?
A revolução do gás de xisto nos EUA e o colossal acordo da China com a Rússia para importação de gás deixam claro a correlação entre energia e competitividade global – sobretudo enquanto cerne de uma política industrial. Mesmo sabendo que o Brasil é um dos países com melhor massa critica no setor elétrico, Dilma atropelou tudo e todos em nome de seu populismo energético. As vítimas estão aí: a economia popular, a indústria e, sobretudo, a verdade.
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