Querer derrubar Dilma, sem que esteja diretamente ligada aos crimes que foram cometidos na Petrobras, é o mesmo que pedir o impeachment de Fernando Henrique Cardoso na época dos escândalos do Banestado, da sua interferência pessoal (e telefônica) nos rumos da privatização, ou do afundamento da plataforma P-36.
Errado estava o PT à època, ao gritar Fora FHC, como estão agora os que bradam “Fora Dilma”, a chamam de vaca, e acham que vão obter o que querem na base da pressão.
É mais difícil, ainda, que aconteça uma “intervenção militar”. Primeiro, porque não existe mecanismo que a permita no texto constitucional. E também porque os militares da ativa não se moverão – a não ser que haja uma catástrofe – para tirar do poder o único governo que trabalhou, nas últimas décadas, para seu fortalecimento, com a Política Nacional de Defesa, a construção de novos satélites, bases e estaleiros de submarinos convencionais e atômicos, de caças de novíssima geração como o Grippen NG BR, de tanques como o Guarani, dos novos fuzis de assalto IA-2, de sistemas de mísseis como o Astros 2020, de misseis ar-ar como o A-Darter, de radares como os SABER, de aviões de transporte pesados, como o KC-390 da Embraer.
Depois das próximas manifestações, o que vai acontecer? Aumentará, continuamente, ainda mais, a pressão por um impeachment, por parte de pessoas que se recusam a aceitar que ele é inviável do ponto de vista da Lei?
O PT pedirá, em reação a isto, que seus eleitores desçam de seus apartamentos – muitos também de classe média – e venham da periferia e do campo, para defender o respeito aos votos que depositaram na urna há menos de cinco meses atrás ?
Até agora, graças a Deus, as manifestações dos dois lados foram pacíficas, mas o que garante que vai continuar assim? O que ocorrerá se houver confronto? E quando surgirem os primeiros feridos, cadáveres, bombas caseiras, tiros, como vai ficar a situação? Será possível voltar atrás, depois que o primeiro sangue tiver escorrido pelo chão?
Em uma democracia, o mais importante é o direito que cada um tem de pensar – ou gritar – o que quiser. Foi para dirimir as eventuais diferenças, que os gregos criaram, na antiguidade, para substituir o porrete, uma grande invenção. Nós só precisamos aprender a usá-la melhor, e não sair quebrando cabeça – ou cabeças – por aí, quando achamos que o fizemos mal.
Ela existe há pelo menos 2.500 anos – e teremos chance de recorrer a ela, daqui a pouco mais de dezesseis meses, para expressar a partidos e candidatos nossa vontade, nosso apoio ou repúdio, insatisfação ou indignação.
Ela significa escolha. E o seu nome é democracia. Mas pode chamar de eleição.
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