terça-feira, 31 de março de 2015

Lebre por gato

A imprensa e algumas lideranças empresariais estimulam a cada minuto uma nova interpretação – na linha que mais lhes convém – de frase dita pelo ministro Joaquim Levy durante encontro com alunos da Universidade de Chicago, analisando as reações de Dilma Roussef no dia a dia, como chefe de governo. O ministro criticou Dilma pelo fato de que a presidente nem sempre se vale dos caminhos mais fáceis para resolver os problemas de nossa tão sofrida economia, mas que ela tem, nas suas decisões, um caráter genuíno de concepção das mesmas. Defende-se o ministro que sua fala fora mais ampla do que as expressões pinçadas, e que uma frase não poderia definir sua relação com o projeto de reversão do quadro de dificuldades para os quais opera soluções, sob a confiança da presidente.

O Brasil está num atoleiro. Somos uma nação que vive todos os dias o desafio de evitar que o barco se afunde irremediavelmente. O governo e nossas instituições suportam um desgaste político comandado por uma oposição errante, indigente de propostas, de ações e de exemplos. Apenas submergem, governo e toda nação, às manobras diárias de um Congresso comandado pela liderança do senador Renan Calheiros e do deputado Eduardo Cunha, que dispensam, ambos, por suas biografias e patrimônios pessoais, maiores apresentações.

Nosso empresariado se acostumou a transferir aos governos suas responsabilidades genuínas e reparar sua inércia com favores, renúncias e a ilusão de mercados criados artificialmente, de juros subsidiados, de anistias fiscais. Às representações sindicais, o governo responde com o afago de concessões desmedidas, acentuando uma realidade equivocada e abissal. Não há ações de geração de emprego, promoção e aperfeiçoamento das relações de trabalho. Empregar no Brasil é caríssimo, e, paradoxalmente, todos perdem – patrões e empregados – por falta de gestão e políticas públicas adequadas.

O processo generalizado de corrupção e fraude – presente em quase todo ato administrativo e que envolva o poder e o interesse público, com toda ação do Judiciário, da Polícia Federal, do Ministério Público – está longe de ser eficaz. Todos os dias, um escândalo maior sucede e supera o golpe em investigação. E, assim, vamos conhecendo novos larápios e suas contas no exterior, recheadas com o que arrecadaram como remuneração de sua corrupção.

Para não esquecer as “bolsas-tudo” – cujo passivo não está no que sangra do orçamento, mas na acomodação que gera, definitivamente, anestesiando o já precário esforço de parcelas da sociedade em buscar no trabalho o sustento de suas demandas.

Com esse tímido inventário de nossas falências, que importância tem a frase do ministro Joaquim Levy sobre o que é e como se comporta a presidente Dilma?

Luiz Tito

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