quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
O PT sem propostas
Para criar convicções sólidas e estáveis na mente dos trabalhadores, geralmente desconfiados e prejudicados pela permanente falta de oportunidades, deveria o PT promover um objetivo direto capaz de falar à vida e mesmo ao bolso de cada um. Uma forma de melhorar salários e condições de trabalho, como mecanismo para sensibilizá-los. Pode ser cruel a conclusão, mas uma adesão baseada exclusivamente em palavras será sempre débil e vacilante. A autoridade partidária precisa estar materialmente exposta através da formulação de metas a alcançar que atinjam e ampliem diretamente o futuro de cada um.
Até agora, e desde o início do governo Lula, qual a proposta concreta levada pelo PT aos trabalhadores em matéria de direitos e prerrogativas? Estabilidade no emprego? Participação no lucro das empresas? Multiplicação do salário-família? Transporte público gratuito? Cogestão ou extinção dos empecilhos ao salário-desemprego? Aposentadorias compatíveis com as exigências familiares? Reforma agrária efetiva pela distribuição e ocupação das terras improdutivas?
Nada foi apresentado como motivação para o aumento do número de companheiros e por isso o PT diminui ano a ano em número de filiados. Basta atentar também para a influência cada vez menor da CUT nas relações de trabalho, blindada a organização pela necessidade de não criar dificuldades ao governo. Do jeito que as coisas vão, decresce a militância e fica menor a influência do partido no processo político e eleitoral. A reeleição, para Dilma, foi mais difícil do que a eleição. Chegou-se a duvidar dela. Passados quase três meses da vitória sofrida e suada, qual a iniciativa adotada pelos caciques petistas para recuperar o tempo quase perdido e mobilizar a massa operária e camponesa?
A impressão é de que na cúpula do PT, depois das urnas, chegou a hora de cada um pensar em si, reivindicando as tradicionais facilidades de nomeações e acomodações na máquina administrativa. O trabalhador que permaneça à margem, perplexo e desiludido pela falta de propostas em condições de atraí-lo. Pelo contrário, recebe de longe apelos para mais sacrifícios e até supressão de seus direitos.
Perdendo espaços e apoio, desvinculado sempre mais dos ideais de sua fundação, arrisca-se o PT a grandes e negativas surpresas. Perceberá, num dia não muito distante, haver perdido as bases por ausência da capacidade de motivá-las. Como em política inexistem vazios, é bom meditar sobre que forças estranhas irão ocupá-los.
Carlos Chagas
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