terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O ministério da soneca


Entre uma campanha e outra, Napoleão fez mais pela França com a pena do que com a espada. Diante da confusão de regulamentos e leis regionais, decidiu botar ordem nas relações entre os cidadãos e entre eles e o Estado. Reuniu uma comissão de notáveis para preparar o Código Civil unificado. Depois de pronto, com 2.281 artigos, foi denominado de Código Napoleônico, exemplo até hoje seguido por muitas nações modernas. Por ironia, eram 39 os participantes da monumental tarefa, que o Imperador presidia de manhã, à tarde e quase sempre à noite, quando exauridos e fatigados, muitos cochilavam. Mola mestra dos trabalhos, o Corso não perdoava, exortando-os com um apelo: “Vamos, cavalheiros, ainda não ganhamos os nossos salários…”

Reúne-se hoje pela primeira vez o novo ministério da Dilma, por ironia contando com 39 ministros. Vão trabalhar pela manhã, presume-se que de tarde também, mas de noite, nem pensar. O que não impede que muitos tirem sua soneca vespertina, embalados pelas palavras da chefona e, com certeza, de alguns condenados escolhidos para expor planos e programas. Parece impossível que os 39 disponham de tempo para se fazer ouvir, hipótese que levaria a reunião ministerial até o dia seguinte. Com a natural tendência ao sono, quantos não resistirão? Até porque, ao contrário dos notáveis de Napoleão, a maioria dos presentes da reunião já em andamento nada teria a relatar ou sugerir, convocados por injunções partidárias fisiológicas, sem maior intimidade com os temas afetos aos respectivos ministérios. Essas contradições fluem para uma única semelhança entre a Brasília de hoje e a Paris de ontem: quantos dos presentes à reunião ministerial poderão dizer que estão ganhando os próprios salários?

Em toda a crônica recente jamais se viu um grupo tão heterogêneo, insosso, amorfo e inodoro. Excetuando-se aqueles aos quais a presidente da República penalizou com a missão impossível de consertar a economia e as finanças públicas sem arcar com a impopularidade, os demais apenas ornamentam a paisagem. Por isso, sem dúvida, será razoável o número dos que estarão cochilando. Sem ter ganho os salários, vale repetir…

Para ficar na referência a Napoleão, importa registrar uma de suas máximas fundamentais: “um governante deve ser mais temido do que amado”. Será essa a diretriz adotada pela presidente Dilma? Saberemos se a reunião ministerial de hoje tiver sido televisada ou ao menos aberta à imprensa. Caso contrário, pela inconfidência dos presentes, quinze minutos depois.

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