sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Um discurso ou o dinheiro de volta?


A retórica da indignação pode fazer bem à alma dos partidários do governo e aos admiradores da presidente, mas não resolve os problemas práticos da empresa.
 Entre dezenas de debates inúteis que enchem de som e fúria as redes sociais, onde hoje se localizam as trincheiras da guerra ideológica, está aquele que pretende determinar, afinal de contas, se quem nasceu primeiro foi o ovo ou a galinha da corrupção.

No tsunami provocado pela Operação Lava Jato, que vem esquartejando aos poucos as entranhas da maior empresa do país, a mítica Petrobrás, ao lado de cifras estratosféricas desfilam nomes inimagináveis e esquemas indecifráveis de propinodutos ligados a siglas partidárias, o que insinua um loteamento político de larga escala das diretorias da empresa.

A militância política infanto-juvenil (uma qualificação que não é cronológica mas de amadurecimento intelectual) atribui a descoberta e investigação do escândalo à suposta coragem do governo petista, já que nunca antes na história deste pais a corrupção foi tão investigada como agora.

A presidente, como ela mesma não se cansa de repetir, repudia a corrupção mais do que qualquer outra pessoa no mundo. Aliás, o verbo repudiar nunca esteve em tanta evidência como nestes últimos tempos. Nunca a corrupção foi tão repudiada-e , paradoxalmente, tão praticada- como agora.

O discurso indignado do procurador geral da República Rodrigo Janot no Dia Internacional de Combate à Corrupção, no qual defendeu a troca da diretoria da Petrobrás, provocou mais impacto do que as declarações do Controlador da União, Jorge Hage, depois de apresentar seu pedido de demissão do cargo que exerceu durante 8 anos.

Janot foi mais emocional (“Envergonha-nos estar onde estamos”) e Hage mais técnico ( criticou o frouxo sistema de controle do governo sobre  estatais e a falta de investimentos na CGU, que segundo ele perdeu 300 auditores desde 2008), mas ambos miravam o mesmo alvo: a falta de profissionalismo na relação do governo com as empresas que ele controla.

A reação da presidente à fala de Janot foi a de considerá-la um “escândalo" e determinar ao ministro da Justiça José Eduardo Cardozo que a respondesse, o que ele fez naquele habitual tom de falsete, que consegue transformar questões de Estado em arenga partidária; esse tom deve parecer adequado a alguém que cobiça uma vaga no Supremo e sabe a quem deve agradar para consegui-lo.

O fato é que a presidente está “indignada”, o fato é que ela “repudia" a corrupção, o fato é que ela não tolera “malfeitos”, e ainda assim considera um escândalo que o procurador-geral sugira o afastamento de uma diretoria sobre a qual pesa a suspeita de uma gestão descuidada, para dizer o mínimo.

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