segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A inocência do poder

Considerando-se todas as circunstâncias apontadas há anos por quem acompanha o assunto, é de surpreender que tenha demorado tanto tempo para o "petrolão" vir à luz
 Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da Transparência Brasil

O domingo acordou o Brasil com a primeira fala presidencial direto de Brisbane. Sem qualquer sinal de repúdio aos atos, que nunca tiveram a sua indignação. Dilma usou e abusou dos chavões de campanha e do PT. E fez questão de afirmar que é a primeira investigação efetiva sobre corrupção no Brasil. “A primeira. E que vai fundo”.

A presidente mais parece um ET, ou mandatária teleguiada, vivendo em outro mundo. Num rompante de quem dá pouco caso ao que ela mesma considera o maior escândalo da história brasileira, garante que “o Brasil não se abalará”. Dilma, talvez em jogo de cena, não se dá conta de que o abalo é catastrófico, o país se revolta. E não vê outra coisa que a repetição de velhas afirmações, gastas e surradas.   

 Nada mais se deve esperar de Dilma, quando voltar da Austrália, sobre o Petrolão. No exterior, também confirmou que “nada disso é estranho para nós”. Uma passagem bem paradoxal para um governo que se afirma o mais investigador de todos os tempos. 

Se não era “estranho”, por que precisou-se de um juiz federal do Paraná para levantar o caso quando estava tudo correndo em Brasília, na boca do caixa? Também nunca vão explicar como deixaram correr solta a maior corrupção, e bilionária, dentro da estatal que é o xodó presidencial. Ninguém sabia, mas os envolvidos são do alto escalão tanto das empresas como da estatal. Não há raia miúda no caso. É tudo tubarão de primeira inclusive no Congresso.

Dilma continua em campanha, como todo o PT, para amenizar, ou tentar ao menos, os golpes seguidos que recebe desde que reeleita. É a primeira vez num país em que o mandatário parece não ter nada o que comemorar tantos são os desastres políticos, econômicos e sociais espoucando como foguetório pela vitória eleitoral.

Embora um dia antes, Cardosão, o ministro fiel da Justiça brasileira (lembrando que está de olho em vaga no STF), tenha anunciado que não se vai admitir a “politização” do escândalo – outro chavão de campanha, Dilma admitiu que o caso vai interferir em todos os segmentos. “(O caso) mudará para sempre a relação entre a sociedade, o Estado e a empresa privada”.


Profetiza mas não explica o porquê de um rombo bilionário, envolvendo empresas, “operadores” de partido, senadores e deputados, gente do Executivo, continuou por anos convivendo com a miséria, a violência, a falta de assistência médica, o sofrimento do povo, e todos os problemas nacionais de importância para o povo, sem que ninguém soubesse de nada. Em tantos anos de silêncio, não houve uma voz, mesmo que pequeníssima não clamasse sobre a roubalheira. E Lula e Dilma, claro, não sabiam de nada.

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