É preocupante e assustador o desleixo com que tratamos a nosso passado recente – e essa incapacidade de refletir sobre a história. A mudança depende somente de nós, de nosso engajamento.
Por uma dessas coincidências, as eleições de domingo ocorrem
no exato dia em que comemoramos 26 anos de promulgação da Constituição vigente,
cujo ordenamento jurídico pôs fim efetivo à nunca por demais execrada ditadura
militar brasileira, que até hoje permanece assombrando a nossa frágil e débil
democracia. Das oito da manhã às cinco da tarde, parte expressiva dos 140
milhões de eleitores aptos a votar, cerca de 70% do total da população, deverá
se apresentar às urnas eletrônicas, exercendo o direito de escolher seus
representantes no Poder Executivo e Legislativo estadual e federal (se o voto
deve ser facultativo ou continuar obrigatório é uma discussão que não cabe aqui
e agora).
O quadro que se pinta não é dos mais animadores, certamente.
Em São Paulo, que, concentrando um terço do Produto Interno Bruto (PIB)
nacional, é tido como o estado mais parecido com o modelo econômico-social que
desejamos aperfeiçoar e exportar para o resto da Federação, encontramos
candidatos cujo deboche pela política aparece no próprio nome com que se
apresentam ao eleitor. Eis algumas bizarrices, pinçadas ao acaso, entre
postulantes a deputado federal: Obama Brasil, Toninho do Diabo, Carlão do Doce,
Macaco Tião Cláudia, Rique O Tchê-Tchê, Doutor Verme, Meu Querido, Mick Jagger
do Brasil, Valmir Olho de Lobo, Newton – O Homem do Chapéu, e outros, e muitos.
Neste ano, em que completam-se 50 anos do golpe que instalou os militares no poder, temos assistido a uma profusão de manifestações autoritárias a nos lembrar que estamos longe ainda de constituirmos um sólido estado de direito. Apesar de realizarmos a sétima eleição direta consecutiva para a Presidência da República – o maior período de democracia de toda a história política do Brasil –, superando traumas (como o impeachment de Fernando Collor) e preconceitos (como a investidura de um ex-metalúrgico e de uma ex-guerrilheira), o pensamento prepotente cavalga pelas ruas e avenidas e, principalmente, pelas redes sociais.
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