“Isso é um absurdo,
pô”. Você pensa que a presidente da República está indignada com o
aparelhamento e uso de uma empresa estatal para trabalhar na campanha de sua
reeleição?
Nem que a vaca tussa. A presidente não está indignada com o
fato, mas com a divulgação do fato, que ela atribui à “proximidade da eleição”.
Mas nem é uma denúncia da oposição nem de seus adversários. É a exibição pura e
simples de um vídeo onde um deputado petista se vangloria do “dedo forte dos
petistas dos Correios” na virada das
intenções de voto dos candidatos do partido a presidente e a governador.
No centro da mesa do evento filmado, impávido e colosso, o
presidente da estatal, Wagner Pinheiro, que mais tarde divulgaria sua
indefectível nota oficial desmentindo que os Correios estejam favorecendo
alguém.
O PT costuma alegar “falta de provas” em qualquer caso de
denúncia de malfeitos do partido, e pelo que se vê, o partido nao aceita nem as
provas que ele mesmo produz.
Assim realmente fica difícil cumprir uma das tarefas
fundadoras do PT, que é a de empunhar a bandeira da ética na política. Nao
importa que a bandeira esteja um tanto esgarçada pelo mau uso que foi feito
dela, desde que algumas pessoas ainda acreditem
nela-ou pelo menos deixem de considerá-la importante, já que “todo mundo faz a
mesma coisa, nao é mesmo?”.
Mas se ninguém se incomoda em nivelar a prática política por
baixo, nem mesmo o PT, que supostamente nasceu para nivelar por cima, será preciso
acreditar em outra coisa, para diferenciar o partido dos outros.
A temporada festejada de inclusão social não teria começado
sem a estabilidade econômica, e isso é consenso entre todos as pessoas sérias,
e embora o PT tenha votado contra ela, se assenhorou de todos os frutos da
árvore, que ele não só não ajudou a plantar, como apedrejou o quanto pôde.
Lula, o palanqueiro, disse em um comício recente, ao
comentar as oscilações da Bolsa em função das pesquisas eleitorais, que ele
“nunca pediu votos ao mercado”. Claro que a platéia que o ouvia pode ter ido ao
delírio, porque a excitação coletiva com frases de efeito faz parte da prática
populista, e ninguém naquele ambiente teria o mau gosto de lembrar que ele só
ganhou as eleições de 2002 depois de acalmar o mercado com a “Carta ao Povo
Brasileiro”, onde o programa do PT foi sepultado para descansar em paz.
Na propaganda eleitoral muito pouco fraterna, o PT destruiu
a ex-companheira Marina, dedicando-lhe a acusação de “neoliberal”, que no
dialeto das esquerdas pós-modernas é algo pior do que “lacaio do imperialismo”
na segunda metade do século passado.
Não importa que não
haja nenhuma semelhança entre o que o PT diz e o que ele faz. Afinal, a alma
daquele partido que muitos idealistas adotaram por ser “diferente de tudo que
está aí” já morreu e o corpo espera uma extrema unção digna.
Sandro Vaia
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