Não sei se vocês lembram, ou que fim levou, aquela história
de censurarem, expurgarem ou proibirem um livro infantil de Monteiro Lobato,
por aspectos considerados racistas. De vez em quando, fico um pouco impaciente
e pergunto por que não proíbem logo Os Sertões, com tanto racismo contido na
parte que todo mundo diz que leu, mas não leu, a referente ao homem. Deve ser
porque, de fato, não leram, senão a grita ia poder começar até mesmo por
Itaparica, onde somos todos, de acordo com a visão dele, mestiços neurastênicos
do litoral. A antropologia da época tinha convicções que pode hoje ser
qualificadas de racistas, mas era a ciência de então e no mesmo barco estão
outros cuja obra haverá de merecer ser reescrita ou banida, como Oliveira
Vianna ou Sílvio Romero. Imagino que devemos até nos surpreender por ainda não
terem começado uma reavaliação da figura de Machado de Assis, sob a acusação de
ele ter sido um mulato alienado metido a branco, ou uma condenação da crítica,
por não o haver qualificado de maior escritor negro do Brasil.
"...Continuamos a ser um dos poucos povos do mundo que acreditam na existência de alguma coisa gratuita. E talvez o único em que o governo chancela, com dinheiro do cidadão, o aviltamento de marcos essenciais ao autorrespeito cultural e à identidade da nação, ao tempo em que incentiva o empobrecimento da língua e a manutenção do atraso e do privilégio"
Mas, no caso de Machado, dizem as novidades, não se trata
de racismo, trata-se da elaboração, com a chancela e o apoio do estado, de
versões populares, ou acessíveis à maioria de obras dele. Segundo o que saiu
nos jornais, concluíram que os jovens e pessoas menos cultas não leem Machado
porque não entendem as palavras e não percebem o que querem dizer certos
arranjos sintáticos. Ou seja, o problema é com Machado, cujos textos obsoletos
são preservados supersticiosamente e já não têm serventia para as gerações
presentes. Urge, portanto, que nos livremos dessa tralha inútil e elitista,
corrigindo o muito que clama por atualização.
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