terça-feira, 17 de junho de 2014

Dois legados da Copa


“Um legado da Copa é a percepção da corrupção nas prioridades; outro é descobrir que os candidatos estão sendo incapazes de perceber essa novidade”
 Ainda é cedo para saber qual legado da Copa ficará entre todos os que foram prometidos, mas é possível saber que um ficará: a percepção popular da corrupção nas prioridades. Faz anos, descobrimos a corrupção no comportamento dos políticos, mas ainda não tínhamos consciência da corrupção nas prioridades da política.
Horrorizamos-nos com o roubo de dinheiro público levado para o bolso de políticos, mas ainda não nos horrorizávamos com o desperdício de prioridades que desviam dinheiro sacrificando os interesses da população e do futuro.
É muito possível que seja descoberto roubo de dinheiro público durante as obras da Copa, mas desde já é possível perceber que houve desvio de outras finalidades mais úteis ao futuro do país e ao bem-estar da população de hoje. Um exemplo é o estádio de cerca de R$ 2 bilhões em Brasília.
Foi preciso fazermos a Copa para descobrirmos que desviar dinheiro para prioridades menos importantes é também roubo: mesmo se não houver apropriação privada do dinheiro público.
A população brasileira — tolerante com a desigualdade social, com forte preferência pelo presente, habituada ao uso do artifício histórico da inflação para financiar os gastos, e submetida à manipulação facilitada pela pouca educação, mesmo entre aqueles com nível de instrução superior — não costumava fazer as contas de quanto custava cada obra, nem o que poderia ter sido feito de diferente.
Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)
Leia mais

Nenhum comentário:

Postar um comentário