Dos 13 presidentes que sucederam a Truman na Casa Branca, apenas Donald Trump cismou em fazer um rebranding do mamute militar. Pretende ressuscitar a denominação Departamento de Guerra por ato executivo.
— Todo mundo adora lembrar nosso histórico de vitórias incríveis quando o Pentágono tinha esse nome — explicou, com a lógica que lhe é própria. — Defesa soa muito defensivo, precisamos de mais ataque. Departamento de Guerra soa melhor.
O titular da pasta, Pete Hegseth, de apenas 45 anos e melenas televisivas, já se intitula secretário de Guerra nas plataformas sociais.
— Para nós, palavras, nomes e títulos importam. Vamos TORNAR A AMÉRICA LETAL NOVAMENTE — postou, com a originalidade de um trumpista raiz.
Em entrevista à Fox News, emissora em que se tornou personalidade midiática como comentarista, explicou:
— Queremos criar um etos de guerreiros no Pentágono (trocar burocratas de uniforme por combatentes de guerra), gente que sabe como trucidar o inimigo.
Alguém deve ter-lhe soprado o pitaco proferido pelo general George Patton em 1943, citado na revista The Atlantic, segundo o qual nenhum idiota jamais venceu uma guerra indo morrer por seu país — ele a vence fazendo outro pobre idiota morrer pelo país dele.
Por ora, ainda vigora a limitação constitucional à mudança antes de sua aprovação pelo Congresso. Mas Trump pode autorizar o uso paralelo do novo nome, assim como passou a usar a denominação “Golfo da América” (no lugar do tradicional Golfo do México) em todos os documentos de governo. Sem falar no custo de imprimir a marca de sua mais recente obsessão com nomenclaturas. A troca do nome em todas as placas, prédios, documentos, selos, brasões, medalhas, uniformes, etiquetas, publicações e instalações do Pentágono mundo afora ultrapassaria de longe os oito dígitos — em dólar. Na era Joe Biden, antecessor de Trump, a mudança de nome de apenas seis bases militares que homenageavam heróis confederados custou US$ 60 milhões, segundo levantamento do portal Axios. Dinheiro jogado fora com a posse de Pete Hegseth, que reverteu tudo ao estado original. No caso atual, a troca seria pantagruélica. O Departamento de Defesa emprega cerca de 1,3 milhão de militares ativos ou quase 3 milhões de pessoas, somando integrantes da Guarda Nacional, reservistas e civis. Dispõe de pelo menos 750 instalações militares mundo afora (120 só no Japão), e o rebranding de tudo isso retrataria a megalomania do autor da ideia.
Sem falar que Trump é autodeclarado candidato ao Nobel da Paz, honraria que combinaria pouco com a instituição de um presidente de guerra. Tampouco avançou um átimo para um cessar-fogo na Ucrânia, nem levanta um só dedo para cortar a máquina israelense de moer palestinos em Gaza.
À primeira vista, a troca de nome do departamento federal que consome mais de 12% dos gastos do governo não deverá afetar sua autoridade legal nem sua estrutura organizacional. É na retórica da mudança que reside o veneno. A intensificação do uso da Guarda Nacional como força de ordem doméstica, a caça e deportação desenfreadas de imigrantes, estudantes e estrangeiros indesejados em território americano, somadas a ataques frontais contra vozes dissonantes do próprio país, podem sugerir um futuro Departamento de Guerra dedicado, também, a combater inimigos internos. A militarização — ou “miliciarização” — dos agentes do ICE, o temido Departamento de Imigração e Alfândega, que não se identificam, nada explicam, usam máscaras no rosto e operam ao arrepio da lei (mas em nome dela), é um mau presságio.
Na juventude, Trump conseguiu dispensa médica para se evadir do serviço militar que despejou uma geração inteira no front vietnamita. Talvez por isso fantasie o que é estar numa guerra. Líderes tão imaturos são perigosos.

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