A militância de esquerda deve, em parte, agradecer a Alcolumbre e Motta, presidentes do Senado e da Câmara, por reavivar o debate da justiça social. Tentaram humilhar e paralisar o governo com a derrubada do decreto que aumentava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Viralizaram a hashtag “inimigos do povo”.
É apenas uma pequena batalha vencida nas redes sociais. A direita ainda predomina e com larga vantagem. Segundo O Globo, os vídeos sobre a injustiça dos impostos alcançaram cerca de 20 milhões de pessoas. A última peça de desinformação de Nikolas Ferreira atingiu um número 10 vezes maior de usuários.
Muitos analistas tentam comparar os ataques ao Congresso com os ataques do bolsonarismo ao STF. Fiam-se na estratégia de eleger um inimigo e dizem que é uma ameaça às instituições. Balela. Primeiro: enquanto o ex-presidente Bolsonaro fez uma sistemática campanha contra o Supremo, Lula já avisou que o “presidente não governa de costas para o Congresso” e alguns ministros defenderam Hugo Motta.
Segundo, o cálculo do bolsonarismo era impedir a Corte de julgar seus crimes e atrapalhar seus planos políticos – controlar o Judiciário faz parte da cartilha básica da extrema-direita mundial. Já a esquerda usa o IOF para debater justiça social e o assalto do Legislativo ao orçamento e o desequilíbrio entre os Três Poderes. Enfim, ninguém pediu cassação de Motta e Alcolumbre até o momento, certo? O conflito é parte do jogo político e só isso.
Isenção para quem ganha menos de R$ 5 mil, taxação dos super-ricos, fim da escala 6×1. Aos poucos os direitos dos trabalhadores e a luta contra as desigualdades vai fortalecendo o discurso de esquerda. É a aproximação dos problemas do dia-a-dia da maioria da população ao invés de cair na armadilha das pautas de costumes ou outras questões ideológicas. Foi o que fez o vencedor das primárias democratas em Nova Iorque Zohran Mamdani.
Com uma campanha com afiada nas redes sociais, ele debateu o sofrimento dos trabalhadores: o preço do aluguel, transporte gratuito, aumento do salário-mínimo, transparência dos gastos, sem fugir de temas espinhosos como o genocídio na Palestina – é uma esquerda que não arreda pé de suas ideias restituir com medo de perder votos.
Outro caso foi o de Gustavo Petro. O presidente da Colômbia sancionou sua reforma trabalhista após aprovação do Senado. Após meses de discussões com parlamentares, a proposta estava travada, já que Petro não tem maioria em nenhuma das Casas. Partiu para o ataque e defendeu uma consulta popular. Os congressistas cederam: aprovaram a reforma trabalhista e de aposentadorias, mas rejeitaram a consulta.
Durante muitos anos as pautas identitárias superaram as questões de classe. Elas devem ser defendidas, mas dentro do guarda-chuva da justiça social. Falta muito, entretanto, para as críticas ao neoliberalismo e a soberania popular serem o mote principal da esquerda, e que desatem em mobilização coletiva – e digital.

Nenhum comentário:
Postar um comentário