sábado, 14 de junho de 2025

A internet é uma droga pesada

No início, há uns sete anos, quando meu neto abriu uma conta no Instagram para mim, me empolguei. Que instrumento maravilhoso de comunicação: ter seu próprio jornal, sua rádio e sua televisão, para dizer o que quiser. Pero no mucho.

Quando você começa a postar, também começa a seguir outros perfis, e mais outros, e mais outros, e quando vê está viciado nisso, cai na rede do algoritmo, perde horas de precioso tempo com futilidades, fofocas e bobagens sem se dar conta, uma vai puxando a outra, e a outra, sem que você consiga interromper o fluxo. Se torna um vício — ou, mais clinicamente, uma dependência. Uma patologia contemporânea. Uma espécie de droga psicológica.


Você se engana, pensando que está buscando informações, reflexões e novidades, mas sua atenção está sendo atraída para iscas, guloseimas e publicidade do algoritmo. É difícil resistir, quebrar o hábito. Talvez logo surja um Instagrâmicos Anônimos para ajudar quem quer se livrar da adicção. Ou do rótulo de advertência, inútil, “use com moderação”. Rede social é droga pesada.

No início da empolgação, minha filha me sacaneava: “o papai se mudou para Instaland”, comentava, concluindo com “rsrs” debochados. Mas a fase aguda foi superada e tento manter uma relação equilibrada com o mundo digital, principalmente porque tenho muito a trabalhar e criar, e a essas alturas da vida, o tempo é cada vez mais precioso. Mas, em algumas circunstâncias, como no táxi, numa sala de espera — em qualquer lugar de espera— , é irresistível, e muito bem-vinda. É melhor me concentrar no que realmente importa, não usar só como um alternativa ao tédio, à solidão e à melancolia.

Mas às vezes vejo o que não queria, e aí já é tarde. Exibicionismos e autoexaltações constrangedores, confidências e sinceridades envergonhantes, urgências de aceitação e validação patéticas, conselhos e orientações de quem não sabe nada, tempo absolutamente perdido.

O problema é que as páginas e assuntos que me interessam tem uma tal abundância de informações, quase sempre controversas, que acabam mais confundindo do que esclarecendo. Quanto mais opções, mais difícil a escolha. Quanto mais aprendo, menos certezas tenho, o que acaba sendo bom, porque estimula a saber mais. E saber para quê? Na superfície e no fundo, para viver melhor, ser mais feliz. O problema é que, quanto mais se sabe, mais consciência da realidade, mais difícil ser feliz, seja lá o que isso for. A vida acontece off-line.

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