Essa percepção explica por que todos os governos americanos depois de George W. Bush, independentemente de sua orientação ideológica, buscaram reduzir seu papel no Oriente Médio – especialmente considerando que os EUA tornaram-se independentes em termos energéticos em 2019, sendo hoje os maiores produtores de petróleo do mundo.
De fato, há anos a China, e não os EUA, é o principal comprador de petróleo da região. Ainda assim, apesar do “Pivot to Asia” (algo como “Redirecionamento estratégico para a Ásia”) anunciado por Obama e das tentativas posteriores de alcançar um grande acordo regional – como a negociação frustrada pelo governo Biden entre Israel e Arábia Saudita –, os EUA continuam muito mais envolvidos geopoliticamente no Oriente Médio do que qualquer outra grande potência.
Para o ex-presidente dos EUA, Joe Biden, o Oriente Médio foi palco de seu maior fracasso de política externa. Ele não conseguiu resolver a tensão entre dois objetivos centrais: oferecer proteção e “apoio ferrenho” a Israel e, ao mesmo tempo, estabilizar o Oriente Médio para poder reduzir o engajamento americano e concentrar-se na Ásia.
Em retrospectiva, fica evidente que, ao oferecer apoio praticamente irrestrito ao governo Netanyahu – líder de uma coalizão instável, sustentada por partidos de extrema direita, e determinado a permanecer no poder para evitar o enfrentamento de múltiplas acusações de corrupção –, Biden acabou incentivando uma postura desestabilizadora do primeiro-ministro israelense no Oriente Médio, minando os esforços dos EUA para reduzir sua presença na região.
DILEMA. Agora, Donald Trump enfrenta o mesmo dilema. Netanyahu aposta que os EUA apoiarão Israel de forma incondicional no confronto direto com o Irã, o que ajuda a explicar por que o governo israelense optou por uma decisão tão arriscada.
Os EUA já estão exercendo um papel crucial para defender Israel contra ataques de mísseis iranianos. A grande questão é se Trump será levado a se envolver ainda mais no conflito. É justamente isso o que alguns líderes do Partido Republicano vêm pedindo.
Em 13 de junho, o senador Lindsey Graham afirmou que, caso a diplomacia fracasse, ele acredita firmemente que seria do interesse da segurança nacional dos EUA “investir totalmente para ajudar Israel a concluir o trabalho” – isto é, destruir o programa nuclear iraniano –, algo que Israel não tem capacidade militar de fazer sozinho.
Da mesma forma, Bill Ackman, investidor e influente aliado de Trump, defende que os EUA “não deveriam deixar passar essa oportunidade, mas Israel não tem o equipamento e os armamentos necessários para concluir o trabalho ( destruir o programa nuclear do Irã)”. “Nós temos”, concluiu.
Como aponta Gideon Rachman, colunista do Financial Times, Trump talvez tenha calculado que poderia usar Israel para pressionar o Irã a desistir de seu programa nuclear. No entanto, agora o presidente dos EUA pode se dar conta de que foi Netanyahu quem o utilizou – arrastando os EUA para uma guerra que o presidente diz querer evitar.
Trump enfrenta uma decisão difícil: manter o discurso de não envolvimento em novas guerras, tão caro a uma parcela de sua base eleitoral, ou optar por apoio total a Israel, como defende o senador Lindsey Graham. Caso bases americanas na região sejam atingidas pelo Irã – hipótese que não pode ser descartada – Trump terá pouco espaço político para resistir à pressão por uma resposta militar mais direta.
Para os EUA, uma escalada neste momento significaria desviar novamente foco e recursos para o Oriente Médio – além de produzir desgaste junto à base trumpista, contrária a novas intervenções militares. Essa distração, fruto da falta de clareza estratégica dos EUA, beneficiaria a China, que vem ampliando sua influência econômica no mundo. O fantasma das últimas décadas, com o Oriente Médio distraindo os EUA de seu “grande jogo” na Ásia, volta a rondar.

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