Uma geração inteira em Gaza foi roubada do seu direito a uma educação adequada pela guerra genocida que Israel trava contra a população civil há quase 17 meses consecutivos.
Bombardeios implacáveis e ataques direcionados levaram à destruição total ou parcial de quase 500 instituições de ensino em toda a Faixa de Gaza. Escolas e universidades — antes refúgios seguros para o aprendizado — agora estão em ruínas, deixando os alunos sem onde estudar e sem uma normalidade para onde retornar.
Nessa realidade angustiante, o e-learning tornou-se o único caminho disponível para aqueles determinados a prosseguir seus estudos. Mas mesmo essa frágil linha de vida traz consigo desafios quase intransponíveis — os principais deles: deslocamento, instabilidade e a falta de acesso confiável à internet.
Sabreen, uma estudante de Literatura Inglesa de 22 anos da Universidade Al-Azhar, conseguiu concluir dois semestres on-line durante a guerra — uma experiência que ela descreve como "a pior de todas".
Somente neste semestre, Sabreen e sua família — sua mãe, cinco irmãs e dois irmãos — foram deslocados diversas vezes.
“Nos mudamos de Khan Yunis para Rafah e depois para Al-Nuseirat”, ela conta. “Como estudante, a parte mais difícil foi encontrar uma conexão de internet estável.”
Para acompanhar seus estudos, Sabreen caminhava longas distâncias a cada poucos dias, procurando desesperadamente por um sinal forte o suficiente para baixar suas palestras.
“Eu costumava salvar os vídeos para assisti-los mais tarde quando voltasse ao nosso abrigo”, disse ela.
Um momento permanece especialmente vívido em sua memória:
Lembro-me de ficar sentado na rua até as 20h, sob o rugido dos aviões de guerra israelenses, só para fazer um exame. Não tive escolha.
Quando tinha exames consecutivos, Sabreen deixava sua família para trás e ia para o abrigo de sua tia em Deir al-Balah na esperança de encontrar uma conexão um pouco mais estável.
“Foi um pouco mais fácil me inscrever para os exames lá”, disse ela.
Para Sabreen, a educação nunca foi apenas uma questão de notas ou diplomas, sempre foi uma paixão.
"Ao contrário de muitos estudantes, eu adorava ir à universidade. Adorava assistir às aulas e nunca perdia uma palestra", disse ela com um sorriso nostálgico.
É por isso que a adaptação ao e-learning foi especialmente difícil.
“No começo, recusei-me a me inscrever para as aulas online”, admitiu ela. “Eu dizia a mim mesma: vou esperar até a vida voltar ao normal. Depois, voltarei e receberei uma educação de verdade.”
Mas a guerra se arrastou. Os bombardeios não pararam. Os campi permaneceram fechados. E a realidade bateu à porta.
“Depois de muita pressão da minha mãe e da minha irmã mais velha, que me avisaram que as universidades poderiam ficar fechadas por anos, finalmente concordei em me registrar e continuar meus estudos.”
Apesar dos esforços heroicos de professores e alunos, a aprendizagem significativa continua sendo um sonho distante. O acesso à internet é escasso, as aulas são incompletas ou atrasadas, e os professores, muitos dos quais também estão deslocados ou em luto, lutam para ensinar nessas condições impossíveis.
"Estudantes e professores estão sofrendo o mesmo genocídio. Estamos todos juntos nessa, apenas tentando resistir."
Este ano deveria marcar a formatura de Sabreen. Ela sonhava em comemorar no pátio florido da Universidade Al-Azhar, usando sua tradicional túnica de formatura, cercada de amigos, posando para fotos e dançando de alegria.
Mas a realidade foi mais cruel.
Em novembro de 2023, a Universidade Al-Azhar, localizada no coração de Gaza, foi completamente destruída.
As bolsas de formatura estão destruídas. As fotos estão desbotadas. Amigos estão mortos, feridos ou desaparecidos. E Sabreen agora está em um abrigo, sem saber se o mundo algum dia lhe permitirá sonhar novamente.
Ela é uma entre milhares — mentes brilhantes enterradas sob os escombros, cujos futuros foram interrompidos indefinidamente pela guerra.
Infância Perdida das Crianças
Em violação a todas as leis internacionais e humanitárias, as crianças de Gaza estão enfrentando as infâncias mais duras e brutais imagináveis — forçadas a carregar fardos muito mais pesados do que deveriam suportar.
Já se foram os dias em que as famílias comparavam as conquistas dos filhos perguntando:
“Quem tirou as notas mais altas?”
“Quem foi o melhor da turma?”
“Quem nos trouxe orgulho?”
Agora, as únicas perguntas que importam são:
“Quem pode trazer água?”
“Quem pode coletar lenha?”
“Quem pode acender um fogo para cozinhar?”
Desde outubro de 2023, escolas foram reduzidas a escombros ou transformadas em abrigos superlotados para os deslocados. Crianças foram forçadas a trocar suas mochilas para sobreviver.
Em vez de aprender, brincar e sonhar, suas prioridades diárias agora giram em torno de encontrar comida, água e segurança.
“Sinto-me triste pela minha filha, Zaina, pelas tarefas que lhe foram impostas por causa da guerra”, disse sua mãe.
Quando a guerra começou, Zaina tinha quase seis anos e estava apenas começando sua jornada educacional.
"Ela estava tão animada para ir à escola. Sentia que tinha crescido", lembra a mãe. "Mas sua alegria não durou muito."
Agora, Zaina tem oito anos. Ela ainda não vivenciou um dia de escola de verdade. Seus sonhos de educação foram engolidos pela guerra e pelo deslocamento.
“Ela se acostumou a uma realidade sem escolas, sem professores e sem estrutura”, disse sua mãe. “Isso afetou sua disposição para aprender.”
Suas novas rotinas refletem essa normalização sombria. Quando solicitada a fazer trabalhos escolares ou participar de uma aula online, ela se recusa. Mas quando solicitada a buscar água, ela concorda entusiasticamente.
"Ela aproveita a oportunidade para sair e ver os amigos", disse a mãe. "As crianças perderam o senso de compromisso. A vida delas é um caos, e elas se adaptaram a isso."
Embora lamente a promessa perdida dos primeiros anos da filha, a mãe de Zaina ainda a considera sortuda.
"Ela não precisou enfrentar longas filas para assar pão ou enfrentar multidões para encher o tanque de água. O pai dela cuida disso, enquanto outras pessoas não têm pai", disse ela.
A guerra não destruiu apenas prédios. Ela destruiu mentes, futuros e o direito de uma geração de aprender, crescer e sonhar. Sejam estudantes universitários como Sabreen ou meninas como Zaina, as crianças e os jovens de Gaza estão sendo privados dos direitos mais básicos que definem uma infância e um futuro.
O que resta é um silêncio aterrorizante — de sonhos adiados, vozes silenciadas e futuros mantidos reféns.
Mas mesmo nos escombros, um lampejo de resistência persiste.
O desejo de aprender.
Crescer.
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