"A publicação da Laudato Si' em junho de 2015 foi fundamental para promover o diálogo sobre a gravidade da crise climática, tanto nos diversos fóruns de alto nível quanto no nível local, no âmbito da COP 21, que levou ao Acordo de Paris", disse Fabián Campos, diretor latino-americano do movimento Laudato Si', à DW.
"A Laudato Si teve uma grande influência porque pessoas das Nações Unidas, cientistas e líderes espirituais participaram de sua redação, e ela contém propostas e reflexões para influenciar os processos da vida", disse à DW João Gutemberg Sampaio, secretário-executivo da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam).
"A encíclica Laudato si' ajudou a universalizar a preocupação com o cuidado da nossa casa comum, um conceito que não é apenas ambientalista, mas também inclui a preocupação com todo o planeta, incluindo seres animados e inanimados", disse à DW Pedro Sánchez, membro da equipe de coordenação da Rede Igrejas e Mineração.
"Esta encíclica vai muito além da mera preocupação com a crise climática; ela se aprofunda nas causas do aquecimento global e da poluição e destruição do planeta", ressalta Sánchez. “Hoje, é um dos textos estudados em escolas, universidades, movimentos ambientalistas e até mesmo em grupos de catequese paroquial que, em muitas partes do mundo, geraram o que é chamado de Pastoral da Ecologia Integral.”
Segundo Campos, o caminho rumo à ecologia integral "teria começado em Aparecida, onde todo o episcopado da América Latina e do Caribe se reuniu com o então Papa Bento XVI, que o encarregou de redigir o documento final". "Esse processo foi fundamental, pois ele pôde vivenciar em primeira mão os desafios que a Igreja enfrentava nessa questão, particularmente na Amazônia. A partir disso, podemos ver que a Laudato si pode ser, em si, um reflexo de um processo de amadurecimento de sua visão de ecologia integral para a Igreja universal", acrescenta. Além disso, ele lembra que “foi assim que alguns anos depois ele propôs o Sínodo da Amazônia”.
Este é "um forte chamado da Igreja universal para cuidar e defender um dos ecossistemas mais importantes do planeta Terra, que está seriamente ameaçado por indústrias extrativas como petróleo, mineração, pecuária e monocultura", lembra Sánchez.
“Diz-se que com o Sínodo da Amazônia, Francisco trouxe a periferia para o centro, porque o Vaticano tem uma grande capacidade de comunicação, então ele deu voz, visibilidade e um grito de preocupação para todo o planeta”, explica o secretário executivo da REPAM.
Além de fundar redes eclesiais de ecologia integral ao redor do mundo, a Igreja também ecoou o apelo do Papa Francisco por ações urgentes sobre o desinvestimento em combustíveis fósseis. "É a instituição que atualmente mais se comprometeu a não investir em combustíveis fósseis. O desinvestimento se concentrou principalmente no Norte global, mas vem se consolidando cada vez mais na América Latina", afirma a diretora latino-americana do movimento Laudato Si'.
No entanto, para o porta-voz da Rede Iglesias e Mineração, embora esse movimento "tenha alcançado grandes avanços na conscientização do mundo acadêmico e de alguns grupos de investidores, não foi capaz de deter o avanço do extrativismo petrolífero na América Latina". “Também devem ser adicionadas campanhas para desinvestir na mineração e em outros tipos de extrativismo, principalmente em áreas como a Amazônia”, acredita.
Nesse sentido, Campos lembra que “a Igreja também assumiu o firme compromisso de se manifestar contra projetos extrativistas que afetam toda a sociedade, incluindo a Igreja em El Salvador, Equador e República Dominicana”.
Também se destaca nesta área a criação da Plataforma Internacional para o Desinvestimento Minerador, promovida pela Rede Iglesias y Minería e com mais de 200 organizações associadas. No entanto, "ainda são poucos para obter o impacto necessário", lamenta Sánchez, que dá alguns exemplos de ações na região. “No Brasil, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) conta com uma Comissão Episcopal de Ecologia Integral e Mineração; no Equador, a Igreja promove a Rede Nacional de Pastoral Ecológica; no Panamá e em El Salvador, a Igreja defende que seus respectivos países sejam livres da mineração de metais; nos nove países amazônicos, a Rede Eclesial Pan-Amazônica está se consolidando; e a Rede Igrejas e Mineração também está consolidando seus nós nacionais na maioria dos países do continente”, explica Sánchez.
Campos também lembra que "a Igreja Católica apresentou os 'Objetivos da Laudato si' e a 'Plataforma de ação da Laudato si', que foram elaborados para fornecer às comunidades católicas ao redor do mundo e suas diversas instituições um roteiro para cumprir esse chamado".
"A morte do Papa Francisco nos coloca diante do desafio de redobrar nossos esforços para promover um mundo de maior solidariedade entre todos os seres, incluindo os humanos, e um mundo de harmonia que garanta a biodiversidade", acredita Sánchez.
"Nosso querido Papa Francisco está encerrando sua peregrinação conosco, mas em sentido físico, não em termos de ideias e propostas", lembra o porta-voz da Repam.
Por isso, "a maneira de preservar o legado de Francisco é colocar em prática a mensagem que ele deixou à humanidade", argumenta Campos, enfatizando que seu legado "continuará marcando o caminho da Igreja Católica e da sociedade em geral rumo à ecologia integral, pois esta já foi amplamente assimilada pela comunidade católica e até mesmo não católica graças à profundidade de sua mensagem".

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