Segurança de fronteiras com uso das forças armadas, protecionismo comercial, expansão da indústria militar, exploração máxima de fontes de energia poluentes e não renováveis, transferência de recursos de outras nações para os Estados Unidos por meio de tarifas, o fim do politicamente correto (que está sendo classificado como uma antítese da liberdade de expressão), controle da inflação e consolidação de uma área de influência no hemisfério ocidental e, mais especialmente, no continente americano.
Foi um discurso direcionado para o que se chama de “América Profunda”, com forte carga emotiva e nostálgica. Mas também um texto com muitos – e duros – recados para o mundo.
Autolegitimado por um discurso de que o mundo se acostumou a obter vantagens injustas dos EUA, Trump sinalizou que a nova administração abrirá inúmeras frentes de renegociação de tratados e acordos comerciais, colocando os países na defensiva.
O “America First”, nesse sentido, é uma força real de motivação de políticas domésticas e de relações exteriores. Para dentro, capitaliza uma energia eleitoral incrível, que lhe deu maioria na Câmara e no Senado e, para fora, promove um novo balanço das forças a partir do abandono de padrões multilaterais e da negociação individual, que valoriza o peso desproporcional dos Estados Unidos.
Para obter mais vantagens, Trump quer fazer acreditar que seu país não tem um rival à altura. A ameaça de sobretaxar países que tentarem substituir o dólar nas suas transações comerciais – cogitado pelo grupo dos Brics –, passa o recado de que nações não alinhadas não têm a quem recorrer e que passar para a zona de influência da China não é uma opção.
Com a oposição enfraquecida, analistas têm escrito que os principais limites à ação de Trump devem vir de rachaduras internas e do resultado de escolhas erradas que podem ser feitas. Como grupo heterogêneo, haverá divergências entre aliados. Um exemplo é a fala de Elon Musk na qual a política migratória deve abrir exceções para trabalhadores altamente qualificados.
Outra discussão é se a combinação de restrição a imigração, a taxação das importações e estímulos dados à economia por meio do corte de impostos não ampliará o problema da inflação. Além disso, pode-se se perguntar se a atitude agressiva dos Estados Unidos em relação às suas áreas vizinhas não estimulará o expansionismo russo ou chinês.
Por ora, no entanto, essas rachaduras não aparecem e o que chama atenção é a imagem de concentração de poder. A presença de praticamente todos os chefes das Big Techs na posse foi a mais simbólica das fotografias tiradas na posse, mostrando uma corte tecnológica e poderosa em torno do Trump.
Curioso que isso ocorre ao mesmo tempo em que começa em Davos o Forum Econômico Mundial. Para inaugurar o encontro, foi divulgado o relatório anual de riscos que elegeu “desinformação e as notícias falsas” como a principal ameaça ao planeta, acima até da emergência climática.
Trata-se de um período conflituoso entre países, entre grupos sociais, empresas e governos. Não que outros tempos não o fossem, mas há uma diferença neste ciclo político inaugurado junto com Trump. Deixa-se de lado o véu típico das disputas diplomáticas e escancara-se que, hoje, o que vale e a regra da terra de Murici, onde cada um cuida de si.
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