Sete candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador foram mortos durante a campanha eleitoral deste ano. E há registro de 455 casos de violência contra líderes políticos da extrema esquerda e esquerda, direita e extrema direita, e até de centro, incluindo tentativas de assassinato, ameaças à vida e agressões.
Os números do Observatório da Violência Política e Eleitoral da Unirio, que desde 2019 coleta e analisa dados nesta seara, apontam que a disputa municipal de 2024 já é a mais feroz da série histórica. Até setembro de 2020, foram registradas 295 ocorrências; em 2022, 431. Confirmam, assim, que a violência cresce de forma consistente e contínua de eleição em eleição.
As tentativas de explicar essa escalada recaem sobre o ambiente de ódio disseminado pelas redes sociais, que estimulariam agressões, até com “convites” a seguidores para acerto de contas com adversários. A análise é correta, até porque as redes preenchem o sentimento anti-tudo de muitos, criando nichos de conforto dentro de verdadeiras gangues virtuais capazes de absurdos. O 8 de janeiro comprova isso.
Mas o buraco, como sempre, é mais fundo. O domínio das redes é uma ação política, orientada e financiada por políticos, para o bem ou para o mal.
O ex Jair Bolsonaro, o deputado mineiro Nikolas Ferreira (PL), o mais votado do país, o autointitulado coach Pablo Marçal (PRTB), candidato a prefeito de São Paulo, são alguns exemplos do vale tudo no uso desses canais. Portanto, o problema não são as redes e sim o uso deletério delas.
São os políticos que incitam a violência; pagam por impulsão e engajamento. É o exercício da política que está podre.
Muito antes da cadeirada do tucano de ocasião José Luiz Datena em Marçal, e de o assistente de Marçal socar o marqueteiro de Ricardo Nunes (MDB), ou do prefeito de Teresina, Dr. Pessoa (PRD), candidato à reeleição, dar uma cabeçada ao vivo e em cores no adversário Francinaldo Leão (PSOL), a degradação da política já estava escancarada. No Congresso Nacional o exercício parlamentar está resumido a selfies, as sessões nas comissões ou no plenário têm sido um festival de agressões verbais e até pancadaria com intuito de gerar vídeos para as redes. Reina a política dos likes.
Inventam-se fatos, falam-se impropérios sobre opositores, criam-se vídeos falsos com auxílio de inteligência artificial para obter mais seguidores. É preciso ter milhares, milhões, nem que sejam robôs, em uma corrida alucinada que passou a ditar o voto e, inclusive, sequestrou o jornalismo. Não são poucas as reportagens sobre o sobe e desce de seguidores de políticos, associando o volume à força de A ou B.
Mas o X do problema (desculpem-me pela obviedade barata) talvez resida no sucesso das mentiras nesse ambiente. Cabe aqui citar o levantamento do New York Times apontando que em apenas cinco dias (de 16 a 20/9), um terço das 171 postagens de Elon Musk, dono do X, com 200 milhões de seguidores no ex-Twitter, foram mentiras deslavadas sobre Kamala Harris em favor de Donald Trump, candidato preferido do milionário.
Políticos mentem desde sempre – não foram as redes que inventaram isso. Prometem o que não cumprem, são genéricos e não raro tratam o eleitor como otário. O palanque virtual deu mais eco às mentiras, replicadas a baixo custo e com a facilidade de um clique. Um crime digital indutor de violência real. É o que está posto ao eleitor que vai às urnas daqui a exatos sete dias. Esforço-me por algum otimismo.
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