Gabriela teve má formação congênita. Nasceu sem os ossos do quadril do lado esquerdo e sem o membro inferior. Sua prótese fica em contato direto com a pele, que tende a se ferir e sangrar, e é amarrada na cintura. Sem ela, Gabriela tem certa dificuldade de se equilibrar. O auge da humilhação foi ao voltar ao saguão carregando a enorme e pesada prótese, para que ela passasse pelo raio-x, direto na esteira imunda porque não cabia na bandeja.
Tudo isso aconteceu no domingo último, 3 de dezembro —por acaso, o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. A rigidez desumana de certas normas e o despreparo de funcionários para lidar com situações incomuns parecem ser nossas especialidades.
É terrível imaginar quantos brasileiros já não foram submetidos a tais humilhações por serem "diferentes". A própria Gabriela às vezes tem vontade de pedir desculpas por sua deficiência —que não a impede de ser uma das mais reconhecidas profissionais do país numa atividade de crescente importância.
Gabriela tem 31 anos. Usa prótese desde um ano de idade. Passa grande parte do ano em viagens no exterior e já embarcou e desembarcou em aeroportos de todos os continentes. "Só vivi semelhante experiência uma vez, na Etiópia", disse.
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