Os historiadores Will e Ariel Durant, coautores da monumental obra “História da civilização” em quase 20 volumes, calculam que em toda a história vivemos apenas 27 anos sem guerra.
“Guerras não são, portanto, uma aberração. Apenas expõem um lado da natureza humana mascarado por convenções de civilidade que moldam a sociedade”, observa a jornalista Dorrit Harazim.
Ainda bem que existem pessoas como Yocheved Lifshitz, libertada pelos seus captores do Hamas. Tendo visto imagens aterradoras da violência do 7/10, israelenses se chocaram com o que ela disse.
Yocheved tem 85 anos, é mãe de muitos filhos e avó de muitos netos. Seu marido também foi sequestrado e permanece preso em algum porão de Gaza. Os dois são ativistas da paz de longa data.
Em uma cadeira de rodas, à saída do Hospital Ichilov, de Tel Aviv, ela contou que depois de sua captura foi espancada e levada para o sistema de túneis de Gaza que se parece com uma teia de aranha.
Uma vez lá, os membros do Hamas a trataram com gentileza. Eles a alimentaram com a mesma comida que comiam, deram-lhe água, assistência médica e até xampu. Os banheiros eram limpos.
Temendo doenças, os captores trabalhavam para higienizar a área que abrigava parte dos mais de 200 prisioneiros. Médicos os visitavam com frequência para saber como se sentiam.
Yocheved criticou os militares israelitas, dizendo que eles e o serviço de segurança interna da colônia Shin Bet, onde ela mora, ignoraram os sinais de alerta da ameaça às cidades perto de Gaza.
De fato, na semana passada, o chefe do Estado-Maior militar israelita reconheceu, após os ataques, que os militares não cumpriram a sua missão de proteger os cidadãos de Israel.
Semanas antes dos ataques, os palestinos se revoltaram e dispararam balões explosivos perto da cerca da fronteira de Gaza, provocando incêndios no Sul de Israel. Disse Yocheved:
“O exército israelense não levou isso a sério”.
Os comentários de Yocheved foram considerados por funcionários do governo de Israel como prejudiciais aos interesses israelitas. Bateu “barata voa” no gabinete do primeiro-ministro.
Foi dito ali que a Direção Nacional de Diplomacia Pública deveria ter tomado conta da situação antes da entrevista à imprensa concedida por Yocheved na noite de segunda-feira.
“Teria sido apropriado, no mínimo, deixar claro para Yocheved que mensagens com esse espírito servem ao inimigo em um momento delicado,” comentou uma fonte do governo.
O gabinete do primeiro-ministro reclamou da entrevista. A família de Yocheved disse que rechaçou o pedido do governo para que ela não dissesse que havia sido bem tratada no cativeiro.
A direção do hospital chegou a interromper a entrevista ao perceber o rumo ela tomava e prometeu ao governo que no futuro não deixará mais que reféns libertados falem com jornalistas.
Sobre o aperto de mão de Yocheved com um membro do Hamas quando ela foi entregue aos cuidados da Cruz Vermelha, um parente dela explicou com simplicidade:
“Se um médico trata você por duas semanas, você aperta a mão dele”.
Ronen Tzur, diretor de comunicações do Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas, aborreceu-se com Yocheved::
“Ao mesmo tempo que há esforços tremendos para convencer o mundo de que os reféns devem ser libertados o mais rápido possível, chega alguém e diz que estão sendo bem tratados.”
Uma colunista do jornal Haaretz, o mais importante de Israel, saiu em defesa de Yocheved:
“Yocheved Lifshitz acabou de passar por um trauma que poucos no mundo conseguem compreender. Especialmente nestes primeiros dias como mulher livre, não devemos julgá-la.
Mas podemos maravilhar-nos com o que parece ser a sua empatia sobre-humana. Ela não está provando que o Hamas é humano; ela está provando que é humana”.
Louvada seja.
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