Esses podem ser os vistos no passaporte do país na sua jornada em busca de posição vantajosa no sistema internacional em transição, ampliando as condições objetivas para o combate a seus enormes problemas domésticos. Estes são tudo menos triviais: crescimento rastejante; governos enredados em limitações fiscais crônicas; intimidade entre máquina pública e interesses privados; degradação ambiental; e, sobretudo, extensa e abjeta pobreza na qual se ancoram violência e desigualdades superpostas de renda, raça, gênero, região, acesso a educação, saúde e tudo o mais que faz parte da proteção social devida aos cidadãos.
Os quase quatro anos do desgoverno Bolsonaro aprofundaram praticamente todas essas mazelas. Mas mostraram também a resiliência das instituições democráticas —Suprema Corte, Tribunal Superior Eleitoral, Federação e Congresso multipartidário— bem como da imprensa e da sociedade organizada em face dos arreganhos da extrema direita.
Atestaram ainda que elites cívicas —hoje mais plurais, mais nacionais e menos brancas— aprenderam com a experiência de resistir ao desmonte de políticas e capacidades estatais fomentado pelo Palácio do Planalto.
Se a campanha presidencial se desenrola ao ritmo de promessas vagas, não faltam propostas sérias para lidar com os mais renitentes problemas brasileiros: da sustentabilidade ambiental ao resgate da educação; do fortalecimento do SUS ao impulso à ciência e tecnologia; da questão fiscal às prioridades de investimento; da cultura à luta contra a violência sem replicá-la.
Esse aprendizado se provará nas urnas.
De hoje a três dias, uma ampla coalizão democrática, unindo lideranças usualmente rivais e eleitores de diferentes simpatias políticas, do centro-direita às esquerdas, desafiará o atraso, a truculência, a boçalidade e o autoritarismo que Bolsonaro encarna —e que tentará impor à força se as urnas lhe mostrarem o merecido cartão vermelho.
Sua derrota —se calhar, já no primeiro turno— abrirá uma fresta através da qual, não sem dificuldades, nem da noite para o dia, talvez se possa construir, tijolo a tijolo, um país mais decente.
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