sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Os caminhos para o crescimento e a equidade

O grande desafio do Brasil no início do seu terceiro centenário é definir um projeto nacional capaz de fazer frente à necessidade de se re-industrializar e de se colocar em sintonia com um mundo em transição para uma economia verde e de mudança de sua matriz energética. Identificar as vantagens comparativas do nosso país nessa nova realidade planetária passa a ser estratégica para o alcance do crescimento sustentado e a promoção da equidade.

Salta aos olhos o enorme potencial do país para ser um protagonista internacional na economia de baixo carbono. Um dos maiores especialistas da área, Eduardo Viola, do Instituto de Estudos Avançados da USP, identifica três fatores que podem nos dar esse status: 1) O Brasil é decisivo no ciclo mundial do carbono. 2) Também é decisivo na biodiversidade mundial. 3) Sua política ambiental, para o bem ou para o mal, impacta no mundo.


Agregue-se a isso outra vantagem comparativa. Somos um dos celeiros do mundo, o maior exportador de grãos, detentor de um agronegócio competitivo no mercado internacional devido aos seus ganhos de produtividade e de inovação. Seu polo dinâmico e moderno entende perfeitamente a necessidade de compatibilizar o agronegócio e o meio ambiente, até para manter sua posição privilegiada no mercado internacional. Cada vez mais os grandes mercados internacionais levam em conta a questão ambiental nas suas relações comerciais.

A mudança da matriz energética baseada em combustíveis fósseis para fontes renováveis é um caminho sem volta. Há uma corrida internacional para definir quem sai na frente. Um dos objetivos do “New Green Deal” do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, é recuperar o terreno perdido para a China, hoje o maior produtor mundial de painéis solar e de turbinas eólicas. Nove das dez maiores empresas do mundo produtoras de painéis solares são Chinesas. O país de Xi Jinping é também líder na geração de energia energética.

A Alemanha é outro país que iniciou sua “revolução verde” e hoje é o quarto maior país gerador de energia solar, apesar de sua desvantagem comparativa de uma radiação solar mais baixa do que a dos países do trópico como o nosso. Segundo o Portal Solar, o Brasil sequer faz parte da lista dos dez maiores país geradores de energia fotovoltaica. Só em 2020 os investimentos mundiais em energias renováveis, principalmente solar e eólica, foram de 303 bilhões de dólares e a nossa participação nesse bolo foi residual.

Além de contribuir para o enfrentamento das mudanças climáticas, a economia verde também traz vantagens econômicas e sociais quando se leva em conta uma nova modelagem na agricultura, nas florestas, na matriz energética, na mobilidade urbana e na produção de novos materiais substitutivos de produtos não biodegradáveis.

Segundo estudo liderado pela WRI Brasil e a New Climate Economy, em parceria com institutos de pesquisas como o COPPE/UFRJ, a economia verde, na comparação com o atual modelo de desenvolvimento, geraria mais dois milhões de empregos até 2030 e um valor adicional do PIB de RS 2,8 trilhões.

Há um filão imenso a ser explorado e nossas vantagens são muitas. O Brasil tem uma grande capacidade de produzir aço com baixa emissão de gás de efeito estufa por meio da utilização de madeira oriunda de reflorestamento, como já vem acontecendo na produção de ferro gusa. Segundo especialistas, como o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, a diminuição do impacto ambiental colocaria o nosso país em vantagem competitiva no mercado internacional.

O reflorestamento se liga com a indústria e o agronegócio, aumentando a fonte de renda do produtor ao alimentar um potencial mercado de carbono. Pesquisas já estão sendo feitas para a madeira oriunda do reflorestamento seja utilizada na construção. Suzano, maior empresa reflorestadora do mundo, tem como meta substituir, nos próximos dez anos, dez milhões de toneladas de plásticos pela produção de celulose.

A combinação da economia verde com o agronegócio sustentado é peça chave de um novo projeto de Nação que deve ser pensado como um projeto de estado e não de governo, gerando um modelo econômico de longo prazo e um processo de reindustrialização completamente diferente do modelo de substituição de importações, cujo esgotamento se deu na década de oitenta.

A necessidade da reindustrialização decorre também de um novo fenômeno mundial, como consequência da pandemia e da guerra da Ucrânia: a desglobalização. A dependência excessiva das cadeias produtivas globais deixou expostas as vulnerabilidades dos países em áreas estratégicas como saúde, energia e alimentos. Não se trata de voltar aos modelos “autóctones”, mas de diminuir essa dependência em áreas sensíveis. O Brasil não pode ficar de fora dessa tendência.

Desde meados da década de 80 a indústria de transformação vem diminuindo a sua participação no PIB nacional. Em 1985 representava cerca de 25% do nosso Produto Interno Bruto, hoje representa pouco mais 10%. Por outro lado, o agronegócio, mesmo com todo seus ganhos de produtividade e de representar 22% do nosso PIB, gera pouco valor agregado, pois exportamos bens primários, sem processá-los industrialmente. Para agregar novos valores, deveríamos dar o salto para a agroindústria, de forma competitiva.

No novo modelo de desenvolvimento, a indústria brasileira deverá se basear na inovação e em áreas nas quais temos mais vantagens competitivas. Inovação é o grande requisito para o salto de qualidade do nosso parque industrial.

Isto nos remete para o terceiro elemento estratégico de um novo projeto nacional: a educação. Não só no sentido da superação da pouca qualificação da nossa mão de obra, um dos fatores impeditivos de ganhos de produtividade da nossa indústria, mas também para a promoção da equidade e da cidadania. A rigor, é necessário um projeto nacional específico para a educação, tema de próximos artigos.

Rapidamente o Brasil pode superar sua condição de pária na questão ambiental e retomar a sua boa tradição de vanguarda na questão ecológica, desde a ECO 92. Mas há condicionantes, entre elas a de deixar de ser o quarto maior país emissor de carbono, manter suas florestas em pé e criar um consenso nacional em torno de um crescimento sinônimo de prosperidade e equidade.

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