Já sabemos que a queda do desemprego e da inflação, e a pequena melhoria na taxa de crescimento de 2022, são resultados com efeitos efêmeros. Efeitos efêmeros estão presentes também no orçamento da União. Aqui, assistimos ao conhecido truque fiscal do aumento da receita causado pela inflação. Combinado, agora, com o corte das despesas pelo congelamento dos salários do funcionalismo por dois anos, na pandemia. Efeitos efêmeros.
Já sabemos, também, que 2023 já está contratado. Deverá ser um ano muito difícil, de crescimento ainda menor do que em 2022 e de continuidade da polarização política. No plano fiscal, o Brasil deve arcar com uma conta adicional de R$ 430 bilhões em 2023, segundo a FGV/Ibre: 4,2% do PIB. A luz vermelha já está acesa e já se fala na providência de um “waiver” fiscal, ou seja, uma licença temporária das regras fiscais para organizar o orçamento. Pérsio Arida estima a necessidade de um “waiver” de R$ 100 bilhões.
Tudo somado, permanece predominante, aqui e agora, a sensação de mal estar dos brasileiros. O infortúnio maior é com a inflação de alimentos. Combinado com a incerteza sobre o como será o amanhã.
Há um grande desencanto e também grande revolta de muitos segmentos da população, como lembrou Christopher Garmam: “a geologia da opinião pública está podre” na América Latina (e no Brasil). Trata-se do problema recorrente da baixa qualidade dos serviços públicos e da falta de confiança nas instituições e nos políticos. Portanto, na Política.
A combinação do desencanto e da revolta com a continuidade do baixo crescimento torna 2023 um grande desafio para quem ganhar a eleição – seja a direita, seja a esquerda. Portanto, o que o país precisa é de um (novo) governo competente e realista. É grande o risco do Brasil reviver e aprofundar a sua realidade de “Belíndia” (a combinação de Bélgica com Índia, na imagem seminal de Edmar Bacha). E, assim, chegar ao extremo da anomia social, da violência e da ingovernabilidade. Estamos próximos dos limites da desigualdade e da pobreza, agora atenuada de maneira efêmera pelo Auxilio Emergencial.
Resta urgente que o debate presidencial precisa apontar saídas para o Brasil, de forma realista. Primeiro, e acima de tudo, o combate à fome e a pobreza, com inclusão produtiva. Missão número um. Segundo, educação e produtividade. Terceiro, a questão climática, para proteger e desenvolver a Amazônia de forma sustentável. O Brasil é uma potência alimentar e ambiental. Estas são três questões essenciais.
Conseguiremos superar o nosso mal estar dos brasileiros? Vamos lembrar que o “mal estar da civilização” (escrito em 1929 por Freud), se refere à teoria freudiana de que o conflito entre as regras sociais e as pulsões primitivas do homem seria a primeira causa dos distúrbios psicológicos daquele tempo. Agora, também? Distúrbios que resultam em medo, ódio e revolta.
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