segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Como Bolsonaro se comporta e o que ele parece

Debrucei-me esta madrugada sobre uma versão em papel do Dicionário do Aurélio à procura de uma palavra que definisse com razoável precisão como Bolsonaro se comporta, e o que parece.

Pensei em classificá-lo de debochado. Debochado com a cara de todo mundo. Deboche quer dizer devassidão, libertinagem, e logo concluí que está muito aquém do que o país assiste.

Detive-me na palavra escárnio. Gosto dela. É sonora, insolente, redonda. Para pronunciá-la, é preciso abrir os lábios e mostrar os dentes com expressão de cólera ou de riso.

Ocorre que escárnio dá impressão de ser uma palavra mais pesada do que é. Não corresponde aos seus sinônimos mais usuais. Escárnio quer dizer menosprezo, zombaria, desdém.


Pulei a palavra pequenez. Não está à altura da façanha protagonizada por Bolsonaro. Passei ao largo de descabido. Que apenas quer dizer inconveniente, impróprio, inoportuno.

Por comum e vulgar, não perdi tempo com sem-vergonha. Vi-me tentado, confesso, a trocá-la por sem pudor, sem brio – mas esses são termos que soam até elegantes, digamos assim.

Esbarrei na palavra reles. Sem dúvida, é ordinária, vil a maneira como o presidente se exibe. Empurra o país para o rés-do-chão, expressão que me encanta desde a adolescência.

Vagabundo? Se aplicado com sentido pejorativo, e eu jamais faria isso, quer dizer desprovido de honestidade, que age de modo desonesto; malandro, canalha.

Com sentido usual, vagabundo é quem não trabalha ou não gosta de trabalhar; vadio. De fato, pegar no pesado não é com Bolsonaro. Ele ama divertir-se. Sai de férias até quando não deveria.

Voltei algumas páginas do dicionário e pus os olhos em patifaria. Deus seja louvado! Imagino finalmente ter encontrado a palavra certa para definir o desempenho de Bolsonaro – patifaria.

Autor de patifaria é patife. E patife, segundo o Aurélio, quer dizer velhaco, pusilânime, covarde, alguém capaz de mandar às favas todos os escrúpulos para alcançar seus objetivos.

Mesmo assim… Chamar Bolsonaro de patife ainda me parece pouco.

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