Nunca se viu tantos miseráveis desalentados nas ruas, mendigando um prato de comida, um litro de leite, um resto, uma sobra, uma migalha. As imagens de grupos de famintos buscando o que comer em caminhões de lixo, nas portas de supermercados, bancos e farmácias remetem aos anos 1980 e início dos 1990. A notícia de brasileiros comendo lagartos no Rio Grande do Norte lembra episódios idênticos relatados no passado, com pessoas fotografadas enquanto preparavam calangos e ratazanas para a refeição. As imagens daquela época eram tão ultrajantes quanto são as de hoje.
As ruas de Copacabana parecem acampamentos, tamanho o número de pessoas sem teto dormindo nas calçadas ou sob as marquises. No Centro do Rio, em Ipanema, na Tijuca, onde você andar vai encontrar pessoas lutando por um pedaço de pão. Em Belo Horizonte, Salvador ou Porto Alegre as cenas se repetem. Em São Paulo, a maior cidade brasileira, a imagem é igual. Pare na esquina da Brigadeiro Faria Lima com a Alameda Gabriel Monteiro da Silva, no coração financeiro do país, e conte o número de pedintes. O resultado será na casa da dezena. No interior do Brasil é a mesma coisa, com mais gravidade em regiões mais pobres do Nordeste. Mas passa-se fome também em Santa Catarina e no Paraná.
Nas campanhas presidenciais pós-ditadura, os temas centrais foram corrupção (Collor e Bolsonaro), economia (FHC I e II, Lula II e Dilma I e II) e fome (Lula I). Lula de novo vem tratando do tema agora, na sua pré-campanha, mas foi a senadora Simone Tebet quem disse com todas as letras do que se trata ao lançar a sua candidatura pelo MDB, na terça-feira. Ela falou para a distinta plateia que a ouvia que partia para uma missão e acrescentou: “Essa missão tem um clamor. Tem o clamor da urgência, urgência porque o nosso povo, o povo brasileiro, está morrendo de fome”.
Em razão desta urgência, é possível que a aposta de Bolsonaro e Moro de levar o debate para a corrupção e ganhar de Lula neste campo não prospere a ponto de garantir uma eleição. Quando 19 milhões não comem e 119 milhões muitas vezes não jantam ou não almoçam, a questão tampouco pode se limitar à economia, embora seja com ela que se vá resolver o problema um dia. O que o eleitor quer saber é qual presidente estará em melhores condições de resolver o seu problema imediato. O povo quer comer, senhor candidato. É a fome, estúpido.
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